Pois bem, para alguns que acompanham, estamos montando uma pequena (futura grande) loja em um Shopping que irá inaugurar perto de casa.
Foram alguns meses de conversas, até que chegamos a um acordo com um amigo que havia trabalhado comigo cerca de 12 anos antes...pois é, trabalhar na mesma empresa é uma coisa, ser sócio é outra. E ao menos até agora está sendo uma experiência muito positiva.
Uma das coisas que estamos estudando são formas de financiamento da operação. Uma alternativa (que, diga-se de passagem, muito poucos empreendedores têm), é a de fazer o investimento inicial com recursos próprios. Outros, buscam investidores profissionais, capitalistas, fundos de capital-semente, ou então, o bom e velho banco.
Tenho visto recentemente intensas campanhas de marketing dos bancos para atrair clientes, todos eles agora dizendo-se “amigos”, “parceiros” pro que der e vier. Um deles diz que é “todo seu”, outro é “feito pra você”, um outro diz ter “presença constante” nos principais momentos da sua vida, e há ainda um que o convida a “fazer juntos” um futuro melhor.
Tentando acreditar nesta história, procurei alguns deles, buscando opções de financiamento para nosso projeto. Temos necessidades tecnicamente distintas umas das outras: em primeiro lugar, financiar a obra (que é algo de mais longo prazo, que precisa depreciar em mais tempo); outra é uma necessidade de aquisição de equipamentos (pensei em algum tipo de leasing); e outra é o bom e velho capital de giro, ou seja, estoques iniciais e uma reserva para os primeiros meses enquanto a loja não dá lucro.
Curiosamente, para nossa primeira necessidade (a obra), a maioria dos bancos têm algo chamado “capital de giro”: ou seja, para aquele dinheiro que MENOS irá girar na sua empresa (obras civis), os bancos te vendem sob o nome de “capital de giro”. Após demorada avaliação (foram 2 meses de conversas, cobranças, follow-ups por e-mail e telefone, documentos, etc), hoje recebo um contato de um banco dizendo que “conseguiu aprovar” um produto que poderia servir de início para nosso relacionamento.
O tal “capital de giro” havia sido extensamente analisado, e aprovado sob uma condição na qual eu deveria ter uma aplicação financeira equivalente a 100% do valor emprestado. Esta aplicação ficaria “travada”, ou seja, vinculada em 100% até a liquidação total do empréstimo, que por sinal foi “estendido” por um prazo de 24 meses.
Eu pedi a palavra ao gerente do banco:
- Então, deixe-me ver se eu entendi: pra você me emprestar dinheiro, eu preciso lhe dar o dinheiro, 100% do montante. Daí, você pega o meu dinheiro emprestado e me empresta ele. Pelo fato de eu estar lhe emprestando o meu dinheiro, você me paga 85% do CDI (algo como 0,6% ao mês), e, por outro lado, pelo fato de você estar me emprestando o (meu) dinheiro, você me cobraria uma “taxinha excelente” de 1,5% ao mês. É isso?
- Sim, é isso, e essa taxa de 1,5% foi excepcional, pois estamos com uma política bem agressiva para conquistar clientes, inclusive o prazo de 24 meses também, porque normalmente são 12 meses.
- Ah, tá. Claro. O dinheiro que eu preciso para a obra da loja, é o que precisaria ser amortizado em mais tempo, é o que vocês normalmente dão menos tempo, então excepcionalmente, você conseguiu aprovar o dobro do tempo, né?
- É. Vamos fechar? Podemos abrir já a conta?
- Você acha que isso é um bom negócio?
- Olha, eu acho sim. Essa taxa é muito boa, nem no outro banco que eu trabalhava era assim. Tenho aqui uma meta de conquistar muitos clientes nessa agência, então já pedi logo de cara essa taxa pra você.
- Bom, mais uma dúvida: e meu dinheiro que vou te emprestar fica bloqueado durante toda a operação, né?
- É, precisa ficar bloqueado por todo o período da operação, senão não dá pra garantir a taxa.
- Ah, deixe-me ver se entendi de novo: digamos que eu precise de R$ 50.000 emprestados. Eu te dou R$ 50.000, você me empresta os meus R$ 50.000. Usando as taxas acima de remuneração da aplicação e de empréstimo, ao final de 24 meses eu teria R$ 57.719 aplicados e “bloqueados” no seu banco, e você me emprestaria R$ 50.000 para eu pagar em 24 meses de R$ 2.496. Ou seja, no 24º mês, para que você possa garantir que vai receber os últimos R$ 2.496 da operação, você fica com R$ 57.719 bloqueados, ou seja, cerca de 23 vezes o valor da dívida. Então a gente começa com 100% de garantia (R$ 50.000 contra R$ 50.000), e termina o período com 2.300% de garantia. É isso?
- Olha, eu nunca tinha feito essa conta, “seu” Ronaldo – aí eu virei “seu Ronaldo”.
- E você continua achando isso um bom negócio....
- Mas é, com essa taxa....vamos abrir a conta hoje?
- Meu amigo...deste jeito está mais que provado o dito popular que “o banco tira de quem não tem para emprestar a quem não precisa”.
Será que um dia o Brasil muda?
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