domingo, 18 de setembro de 2011

Atitude de Brasileiro - Qual é? O que queremos afinal?

Como a algum tempo não colocava posts por aqui, resolvi pegar este que recebi em uma destas "correntes de e-mail". Retrata muito bem como o brasileiro age diante de um "falso moralismo", as vezes até com a "cidadania digital" que já vi muitos criticarem. Falta-nos ATITUDE além de um post na rede social.

Segue o texto
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Políticos ruins. Tá reclamando de quê????????

Tá reclamando do Lula? do Serra? da Dilma? do Arrruda? do Sarney? do Collor? do Renan? do Palocci? do Delubio? Da Roseanne Sarney? Dos politicos distritais de Brasilia? do Jucá? do Kassab? dos mais 300 picaretas do Congresso?


Brasileiro reclama de quê?

O Brasileiro é assim:

1- Coloca nome em trabalho que não fez.

2- Coloca nome de colega que faltou em lista de presença.

3- Paga para alguém fazer seus trabalhos.

4- Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.

5- Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.

6- Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.

7- Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura.

8- Fala no celular enquanto dirige.

9- Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos (me dá um toque que eu retorno...) - assim o amigo não gasta nada.

10- Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.

11- Para em filas duplas, triplas, em frente às escolas.

12- Viola a lei do silêncio.

13- Dirige após consumir bebida alcoólica.

14- Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

15- Espalha churrasqueira, mesas, nas calçadas.

16- Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho.

17- Faz "gato" de luz, de água e de tv a cabo.

18- Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.

19- Compra recibo para abater na declaração de renda para pagar menos imposto.

20- Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.

21- Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10, pede nota fiscal de 20.

22- Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes.

23- Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.

24- Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

25- Compra produtos pirata com a plena consciência de que são pirata.

26- Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.

27- Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.

28- Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.

29- Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.

30- Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos, como clipes, envelopes, canetas, lápis... como se isso não fosse roubo.

31- Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha.

32- Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.

33- Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.

34- Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

35- Negocia preços "com nota" e "sem nota", com a plena consciência de que o imposto está sendo sonegado, achando-se "esperto", sem dar-se conta de que, por conta disto, tudo acaba saindo mais caro.

E quer que os políticos sejam honestos....

Escandaliza-se com o mensalão, o dinheiro na cueca, a farra das passagens aéreas...

Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?

Brasileiro reclama de quê, afinal?
Vamos dar o bom exemplo!
Espalhe essa idéia!

"Fala-se tanto da necessidade deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores (educados, honestos, dignos, éticos, responsáveis) para o nosso planeta, através dos nossos exemplos...."

Amigos!
Esse é um dos textos mais verdadeiros que recebi.
Colhemos o que plantamos!
A mudança deve começar dentro de nós, nossas casas, nossos valores, nossas atitudes.

sábado, 9 de abril de 2011

Bancos - Robin Hood reverso

Pois bem, para alguns que acompanham, estamos montando uma pequena (futura grande) loja em um Shopping que irá inaugurar perto de casa.

Foram alguns meses de conversas, até que chegamos a um acordo com um amigo que havia trabalhado comigo cerca de 12 anos antes...pois é, trabalhar na mesma empresa é uma coisa, ser sócio é outra. E ao menos até agora está sendo uma experiência muito positiva.

Uma das coisas que estamos estudando são formas de financiamento da operação. Uma alternativa (que, diga-se de passagem, muito poucos empreendedores têm), é a de fazer o investimento inicial com recursos próprios. Outros, buscam investidores profissionais, capitalistas, fundos de capital-semente, ou então, o bom e velho banco.

Tenho visto recentemente intensas campanhas de marketing dos bancos para atrair clientes, todos eles agora dizendo-se “amigos”, “parceiros” pro que der e vier. Um deles diz que é “todo seu”, outro é “feito pra você”, um outro diz ter “presença constante” nos principais momentos da sua vida, e há ainda um que o convida a “fazer juntos” um futuro melhor.

Tentando acreditar nesta história, procurei alguns deles, buscando opções de financiamento para nosso projeto. Temos necessidades tecnicamente distintas umas das outras: em primeiro lugar, financiar a obra (que é algo de mais longo prazo, que precisa depreciar em mais tempo); outra é uma necessidade de aquisição de equipamentos (pensei em algum tipo de leasing); e outra é o bom e velho capital de giro, ou seja, estoques iniciais e uma reserva para os primeiros meses enquanto a loja não dá lucro.

Curiosamente, para nossa primeira necessidade (a obra), a maioria dos bancos têm algo chamado “capital de giro”: ou seja, para aquele dinheiro que MENOS irá girar na sua empresa (obras civis), os bancos te vendem sob o nome de “capital de giro”. Após demorada avaliação (foram 2 meses de conversas, cobranças, follow-ups por e-mail e telefone, documentos, etc), hoje recebo um contato de um banco dizendo que “conseguiu aprovar” um produto que poderia servir de início para nosso relacionamento.

O tal “capital de giro” havia sido extensamente analisado, e aprovado sob uma condição na qual eu deveria ter uma aplicação financeira equivalente a 100% do valor emprestado. Esta aplicação ficaria “travada”, ou seja, vinculada em 100% até a liquidação total do empréstimo, que por sinal foi “estendido” por um prazo de 24 meses.

Eu pedi a palavra ao gerente do banco:
- Então, deixe-me ver se eu entendi: pra você me emprestar dinheiro, eu preciso lhe dar o dinheiro, 100% do montante. Daí, você pega o meu dinheiro emprestado e me empresta ele. Pelo fato de eu estar lhe emprestando o meu dinheiro, você me paga 85% do CDI (algo como 0,6% ao mês), e, por outro lado, pelo fato de você estar me emprestando o (meu) dinheiro, você me cobraria uma “taxinha excelente” de 1,5% ao mês. É isso?
- Sim, é isso, e essa taxa de 1,5% foi excepcional, pois estamos com uma política bem agressiva para conquistar clientes, inclusive o prazo de 24 meses também, porque normalmente são 12 meses.
- Ah, tá. Claro. O dinheiro que eu preciso para a obra da loja, é o que precisaria ser amortizado em mais tempo, é o que vocês normalmente dão menos tempo, então excepcionalmente, você conseguiu aprovar o dobro do tempo, né?
- É. Vamos fechar? Podemos abrir já a conta?
- Você acha que isso é um bom negócio?
- Olha, eu acho sim. Essa taxa é muito boa, nem no outro banco que eu trabalhava era assim. Tenho aqui uma meta de conquistar muitos clientes nessa agência, então já pedi logo de cara essa taxa pra você.
- Bom, mais uma dúvida: e meu dinheiro que vou te emprestar fica bloqueado durante toda a operação, né?
- É, precisa ficar bloqueado por todo o período da operação, senão não dá pra garantir a taxa.
- Ah, deixe-me ver se entendi de novo: digamos que eu precise de R$ 50.000 emprestados. Eu te dou R$ 50.000, você me empresta os meus R$ 50.000. Usando as taxas acima de remuneração da aplicação e de empréstimo, ao final de 24 meses eu teria R$ 57.719 aplicados e “bloqueados” no seu banco, e você me emprestaria R$ 50.000 para eu pagar em 24 meses de R$ 2.496. Ou seja, no 24º mês, para que você possa garantir que vai receber os últimos R$ 2.496 da operação, você fica com R$ 57.719 bloqueados, ou seja, cerca de 23 vezes o valor da dívida. Então a gente começa com 100% de garantia (R$ 50.000 contra R$ 50.000), e termina o período com 2.300% de garantia. É isso?
- Olha, eu nunca tinha feito essa conta, “seu” Ronaldo – aí eu virei “seu Ronaldo”.
- E você continua achando isso um bom negócio....
- Mas é, com essa taxa....vamos abrir a conta hoje?
- Meu amigo...deste jeito está mais que provado o dito popular que “o banco tira de quem não tem para emprestar a quem não precisa”.

Será que um dia o Brasil muda?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Figurinha Carimbada


Figurinhas carimbadas valem mais



Nos meus tempos de adolescente, notadamente a época da Copa do Mundo de 1982 (aquela que todo mundo lembra que o Brasil jogou bem mas não ganhou), eu era um ávido colecionador de figurinhas. Daqueles de jogar “bafo” nos intervalos da escola, levar sacos e envelopes lotados de figurinhas para trocar e disputar com os colegas, ver quem completava o álbum primeiro.

Tinha até uns álbuns que você completava um time do campeonato brasileiro e ganhava uma TV, panela de pressão, e um monte de coisas que eram inúteis para as crianças, e “mais ou menos úteis” para os pais, talvez uma forma disfarçada (ou descarada) de fazer os pais comprarem mais e mais figurinhas para os filhos – que por sua vez, infernizavam os pais porque só faltava a figurinha do Zico para completar o Flamengo e então ganhar o tão cobiçado...faqueiro de 40 peças!

Só que o Zico era diferente. Não só a pessoa, o jogador, mas a figurinha também. Vinha com uma palavra dizendo “Carimbada”, honra reservada a apenas um craque de cada time, e isto fazia com que aquela figurinha fosse mais difícil de se obter, e portanto, ainda mais cobiçada. Quando aparecia uma dessas nos campeonatos de “bafo”, tinha gente disposta a trocar 20, 30, figurinhas por uma dessas, criando uma verdadeira inflação no mercado de figurinhas repetidas (afinal, havia também os sortudos que tinham as carimbadas repetidas!)

Anos mais tarde, fui entender que este fenômeno da escassez das figurinhas carimbadas, só seria mais uma faceta que evidenciaria a burocracia, tráfico de influência e jogo de poder, característicos da nossa “quase-democracia”, que até mesmo as crianças começavam a praticar com suas trocas de figurinhas carimbadas. Afinal de contas, um carimbo fazia com que a figurinha valesse mais.

Na vida adulta, percebi que a regra continuaria valendo. Tudo que tem um carimbo, de alguma forma, vale mais. Até mesmo aquelas cartas comerciais antigas que terminavam com a frase: “para maior clareza, firmamos a presente”, tinham que ter um carimbo, afinal de contas, quando você assina uma carta ela deve mesmo ficar com todo seu conteúdo mais inteligível ao leitor, e se estiver carimbado então, ninguém ousará duvidar de seu conteúdo e seguir as recomendações ali contidas. Pois se quem assina tem um carimbo, deve ser alguém importante.

O carimbo marca todo e qualquer evento importante na vida das pessoas. Quando você nasce, sua mãe vai ao hospital, dá entrada na maternidade, assina uns papéis (aqueles em branco que “o convênio manda assinar”), e lá está um carimbo. Após nascer, o pai vai ao cartório registrar o filho, e ganha o carimbo do tabelião. Quando matricula o filho na escola, ganha o carimbo. Quando o filho termina a escola, lá vem o diploma com o carimbo do diretor da faculdade. (Se repetir de ano, vem cartinha para a mãe, também carimbada pela diretoria...). Quando o filho consegue o estágio, tem o carimbo da empresa. Ao ser efetivado, o primeiro carimbo na carteira de trabalho. O filho então compra seu primeiro carro (o Fusca usado...), e lá vai ele pegar o carimbo de reconhecimento de firma do vendedor do carro. O filho sai de casa e vai morar de aluguel....e tem carimbo no contrato de locação. Quando resolve comprar o imóvel, tem carimbo em tudo quanto é lugar. O filho então se casa...e vem carimbo do cartório de registro civil. Se o filho tem filhos...repete-se o ciclo. Se o filho se separa, tem carimbos de separação, divórcio, advogados, juiz, guarda das crianças, etc. Se o filho vende o imóvel, carimba. Se o filho morre, carimba.

Experimente mandar um recibo de consulta de seu médico para o convênio lhe reembolsar, faltando o carimbo do CRM do médico...experimente tentar sacar seu FGTS após ser humilhantemente demitido, e estiver faltando um carimbo da empresa em um papel qualquer.

Recentemente, contratei um estagiário para nossa empresa. Fizemos todo o processo seletivo, emitimos o contrato, e eu assinei. Foi devolvido pela faculdade pois faltava o carimbo da empresa. Expliquei que nós não tínhamos carimbo (afinal, que diferença faz...), que se fosse necessário poderíamos reconhecer firma em cartório, mandar o contrato social da empresa junto, mas não adiantou. “É o procedimento, tem que ter o carimbo”. Gastei R$ 10,00 e mandei fazer o tal carimbo, para ser usado uma única vez. Só não gostei da história porque não me avisaram que quem não tem carimbo não pode contratar estagiário.

Aliás, pensando bem, quem não tem carimbo não deveria nem estar vivo...
(e ainda bem que não tive que carimbar o blog!)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O "Deus" do Karatê

História longa e real...mas acho interessante! Boa leitura e agradeço seus comentários!


Capitulo I

Saímos de casa, meu irmão e eu, a pedido de minha mãe, para comprar carne para o almoço. Eu devia ter uns 12 ou 13 anos naquela época, onde as preocupações não eram muitas alem das obrigações escolares e algumas relacionadas à casa. O açougue ficava a menos de 2 quadras de distância e convidei meu irmão para vir junto.

Na saída do açougue, fomos abordados por um homem em uma moto, que nos perguntou se conhecíamos uma rua ali nas redondezas. Respondi a ele que não sabia onde era (e de fato eu não sabia mesmo), mas também com a intenção de não alongar muito a conversa, afinal de contas éramos duas crianças falando com um estranho. Mas ele insistiu:

- Vocês sabem onde tem uma loja de kimonos por aqui?

Como nós praticávamos o karatê naquela época, sabíamos o que era um kimono. Mas não conhecíamos loja alguma, e fomos nos despedindo...

- Não sei, não conheço.

- É que estou procurando kimonos – insistiu ele – e também lonas para barracas de acampamento. Eu sou membro de uma academia de karatê e estamos organizando uma viagem com acampamento – insistiu ele...

- Ah, a gente também “faz” karatê – comentou inocentemente meu irmão.

- Puxa vida! Que legal! – disse o sujeito, já desligando a moto...

Seguiram-se então uma série de perguntas que alongaram demais a nossa conversa. “Qual academia? Há quanto tempo? Que estilo de karatê? Vocês fazem competições?”... e daí por diante. E eu já preocupado com o horário, pois minha mãe esperava (pela carne e pelos filhos) para o almoço. Tratei de dispensar o sujeito, mas ele veio com o convite:

- Vocês gostariam de ir conhecer a nossa academia?

- Claro! Será um prazer – respondi – mas temos que falar com a nossa mãe antes, me dá o endereço que a gente aparece lá.

Ele tirou um cartão da carteira e anotou o endereço, dizendo “espero vocês lá, hein?”

Fomos pra casa. No caminho, dei a devida bronca no meu irmão, por ter aberto a boca na hora errada. Em casa, minha mãe já preocupada pela demora, mas enfim, tudo foi superado sem problemas...

Capítulo II – O segundo encontro (no viaduto)

Cerca de 2 ou 3 meses depois do primeiro episódio, caminhava eu em direção à escola, no início de uma tarde, para uma aula de Educação Física. Ao atravessar por cima de um viaduto na Av. 23 de Maio, fui abordado por um outro cara em uma moto, pedindo uma informação:

- Você sabe onde fica a rua “X”? (não me lembro o nome)

- Não, infelizmente não conheço – respondi.

- Você conhece alguma loja de kimonos?

Pronto! Imediatamente pensei “puxa vida, outro deles?”. Não era possível ver isso, a mesma abordagem, de moto, o mesmo diálogo...mas ele continuou:

- É que estamos organizando um acampamento pra academia onde eu faço karatê.

Eu não queria acreditar no que estava ouvindo, mas era verdade, até que ele atacou:

- Aliás, você não é o Ronaldo?

- Não, acho que você está enganado...- aí já fiquei com medo que estivessem me seguindo.

O cara então pediu desculpas e foi embora. Que alívio!!!

Capitulo III – A visita inesperada

Se não me engano, cerca de 3 ou 4 meses após o segundo episódio, eu estava em casa, numa tarde, jogando videogame com meu irmão.

Lá pelas 2 da tarde, tocou a campainha de casa, e como de costume esperamos que minha mãe fosse atender.

Escutei ao fundo uma voz que perguntava

- O Ronaldo mora aqui?

Minha mãe então me chamou, dizendo “visita pra você”. Qual não foi minha surpresa ao ver o sujeito da primeira moto, ali, na porta da minha casa!!!!!

- Ronaldo!! Ainda bem que te encontrei...lembra de mim? Da academia de karatê...

- Lembro sim...mas... – eu e meus 13 anos – como você achou minha casa?

- Ah, eu me lembro que nos conhecemos ali na esquina, eu estava te perguntando sobre lojas de kimonos e você me disse que treinava karatê...

- Sim, mas, ...

- Olha, eu trouxe aqui umas fotos do nosso acampamento, lembra? Estávamos organizando uma excursão da academia e....

- Ronaldo, de onde vocês se conhecem? – perguntou minha mãe, já curiosa e ao mesmo tempo preocupada.

- Ah, ele estava outro dia procurando uma loja, e descobrimos que ambos fazem karatê...

- Então Ronaldo – continuou ele – olha só as fotos, que legal, teve acampamento, escalada, montanhas... – e me mostrava e explicava cada foto, que eu mal tinha condições de prestar atenção ao ver minha mãe cada vez mais assustada (e meu irmão entretido no videogame, estrategicamente ignorando tudo aquilo).

- Que legal, que bom que o acampamento tenha sido legal – tentei terminar o assunto.

- Pois é Ronaldo, talvez tenhamos um outro daqui uns 2 meses...mas enquanto isso, você não quer ir visitar nossa academia? Quem sabe mostrar para nós como a sua academia treina, para vermos as diferenças entre o que você faz...o shoto-kan e o que nós fazemos, o kyokushin...

- É, quem sabe um dia iremos, e...

- Legal! Olha, sábado vai ter um treino pela manhã e seria muito legal se você pudesse ir...

- Não sei se minha mãe vai deixar e... – putz...minha mãe tinha voltado para a cozinha – vou ter que falar com ela depois.

- Legal, vamos esperar vocês lá...você também viu Ricardo?

- Hã...eu? O quê? – meu irmão fingiu de distraído com o videogame.

Capítulo IV – O treino

Na 6ª feira anterior ao treino, o telefone em casa ainda tocou, e era o sujeito querendo confirmar nossa presença no treino. Minha mãe condicionou nossa ida à presença de um outro grande amigo, o Edmilson, ao tal treino. Deixamos o endereço da academia com ela.

Liguei para o Edmilson e contei a história a ele, e o convenci a ir à academia, mais para “me ajudar” do que para curtir a visita em si...mas no fim ele topou.

No sábado, fomos para a academia. Estrategicamente, “esquecemos” nossos kimonos em casa, na intenção de apenas assistir (e não participar) os treinos deles.

Chegando lá, procurei pelas pessoas conhecidas, e nos pediram para esperar em uma sala ao lado da recepção. Em seguida, apareceu o cara da segunda moto (aquele que eu falei que eu não era o Ronaldo).

- Ronaldo? Que legal encontrar você aqui...aliás, não foi você que eu encontrei outro dia ali perto da 23 de maio???

- Eu? Hmm, er...é...acho que foi...

- Foi sim! Eu estava procurando uma loja de kimonos...que legal que você veio!

A esta altura, eu já me perguntava o que era que aqueles caras queriam comigo. O Edmilson, meu amigo, então, não entendia nada do que estava acontecendo...

- Ronaldo, você conhece esses caras?

- Eu não, mas por algum motivo todos eles me conhecem, e não tenho a menor idéia de onde...

- Mas esse cara aí lembrava muito bem de você e...

- “Ed”...não me faça perguntas difíceis. Não tenho a menor idéia de onde esse cara tem tanta familiaridade comigo.

Apareceu o sujeito da primeira moto, e da visita em casa:

- Oi Ronaldo! Que legal que vocês vieram! Me disseram que vocês viriam. Nosso treino já vai começar. Se vocês quiserem, o vestiário é ali e...

- Ah...olha, não trouxemos kimonos, e vamos só assistir. – tentei argumentar.

- Como não? Puxa...mas nós podemos emprestar kimonos a vocês – e chamou um dos colegas – olha, vamos conseguir 3 kimonos para eles aqui, eles são nossos convidados e vão treinar conosco.

Não tivemos como escapar. Pegamos os kimonos emprestados (ao menos estavam limpos). O meu devia ser uns 6 números maior e realmente eu “sobrava” dentro dele. Cheguei a propor ao meu irmão de vestirmos juntos um kimono só, e ele deu risada. Aliás, o Ricardo se divertia com aquela situação.

Fomos para o treino, com o Ed resmungando que não queria treinar. Começou o “aquecimento”, com o pessoal (umas 30 pessoas) correndo em volta do pátio da academia – na verdade era uma casa perto da Vila Mariana, com um quintal relativamente grande. O grupo já tinha uns exercícios ensaiados entre eles, e até uns “gritos de guerra” que faziam à medida que o líder do grupo entoava algumas palavras...

- “Avançar”...gritava ele.

- “Sempre!” – respondiam todos...

- “Recuar”...

- “Nunca!” – respondia o grupo...

O Ed, Ricardo e eu, totalmente perdidos, apenas correndo em fila indiana atrás do grupo. De vez em quando, o grupo parava para exercícios específicos: abdominais, polichinelos, saltos, enfim, coisas típicas de aquecimento para um treino. Tudo muito normal, até que o líder da fila abriu o portão da casa e saiu pela rua Sena Madureira correndo, e a fila atrás dele!

Aí, o Ed, Ricardo e eu achamos estranho...nós todos em kimonos emprestados (e 6 números maior), achamos que foi o maior “mico” que pagamos, ao sair pela rua gritando estas palavras de ordem, correndo descalços pelas calçadas, como parte de um aquecimento. O Ed, durante a corrida estava atrás de mim, falava a todo tempo em meu ouvido: “você vai me pagar por isso!”

Terminado o aquecimento, o lider do grupo reuniu todos e anunciou:

- Hoje temos 3 convidados aqui em nossa academia: Ronaldo, Ricardo e Edmilson, que treinam karatê shoto-kan e vão nos demonstrar algumas diferenças entre os estilos...na verdade, acho que seria ideal colocarmos um de nós para lutar com um deles. Que tal, Ronaldo?

- Bem...eu...é... – não sabia o que dizer.

- Então, vamos fazer um círculo aqui, vamos colocar o fulano para lutar com o Ronaldo. Logicamente, não queremos aqui golpes reais ou que ninguém se machuque, portanto vamos apenas simular algumas diferenças, e quem sabe o Ronaldo goste da nossa academia e possa vir a treinar conosco.

Fiz então uns 5 minutos de lutas e golpes simulados contra o meu “sparring”. Era ridículo: o cara devia ter uns 30 anos de idade, e eu com 13, “ensinando” toda minha técnica apuradíssima de um faixa-amarela a toda aquela comunidade. A cada golpe meu, metade do grupo aplaudia...e eu não entendia nada.

Me tornei sem querer um verdadeiro "Deus do karatê", o verdadeiro Sr Myiagui em pessoa, só que com 13 anos de idade...

Passada essa cena patética, fizemos outros exercícios junto com o grupo, e finalmente aquele martírio acabou. Fomos convidados a vir sempre na academia, adoraram nossa presença, blábláblá....

Capítulo V – O terceiro encontro

Acho que uns cinco meses depois do fatídico treino, estava eu ainda caminhando na Av Brigadeiro Luis Antonio, quando aparece um cidadão em uma moto e...

- Olá, boa tarde. Estou procurando uma loja de kimonos e...

Essa não! Era um terceiro integrante da “seita”...

- Olha, estou atrasado, não conheço.

- Ronaldo? Não é você quem esteve na nossa academia?

E agora? O que dizer a ele? Deu vontade de sair correndo....mas a primeira coisa que veio à cabeça é que não adiantaria, pois eles já sabiam onde eu morava.

- Sim, sou eu sim. Mas não conheço lojas de kimonos por aqui.

- Ah, não tem problema! Eu conheço uma não muito perto daqui que fica na...

- Mas eu não estou comprando kimonos – respondi – é você!!! Olha, preciso ir.

- Tudo bem! Olha, no mês que vem vamos fazer um acampamento, você não gostaria de ir?

- Sinceramente, não. Não gosto muito de acampamento – tive que inventar essa.

- Mas se você preferir, tem pousada lá, não precisa dormir na barraca.

- Olha, desculpe, não posso. Preciso ir. Até logo.

- Até a próxima!

Como assim até a próxima??? Então ele já sabia que haveria a próxima???

Capítulo VI – Anos depois...

Pois bem, acho que o último episódio havia ocorrido aos meus míseros 14 anos de idade. Aos 30 anos, já depois de muitas experiências na vida, este assunto estava totalmente encerrado e devidamente guardado na memória.

Não que eu me preocupasse com isso, mas havia sido até então uma série de coincidências que, toda vez que eu contava a alguém, nem eu acreditava. Em momento algum tive medo disso, mas ficava tentando entender a história para tentar achar algum ponto onde isso tivesse uma explicação lógica, e nada....

Estava eu em um laboratório médico, aos 30 anos de idade, esperando para realizar um exame de ressonância em meu joelho, que havia sido machucado em uma partida de futebol quando eu morava nos EUA. Em uma das vindas ao Brasil, resolvi procurar médico e laboratório para fazer a tal ressonância.

Na sala de espera, peguei um jornal e comecei a ler. Ao meu lado, sentou-se um homem, cerca de 15 anos mais velho que eu, e puxou a conversa...

- Nossa, que dia corrido hoje.

- É mesmo – respondi eu – hoje em dia, a gente nem nota o tempo passar... – típico assunto-vazio-de-sala-de-espera-de-laboratório.

- Eu acho que conheço você – disse o cara ao meu lado...

- Ah é? Não me lembro de você não – e realmente não lembrava.

- Você treina karatê?

- Não...não mais. Quer dizer, eu treinava há muito tempo atrás.

- Ronaldo? É esse seu nome?

- Sim...e você?

- Marcos. Nossa! Que coincidência encontrar você aqui. Eu treinava na Vila Mariana e...

- Ah...acho que me lembro – é claro que eu lembrava!

- Nossa, e você, o que tem feito?

- Ah, moro agora nos Estados Unidos, só estou aqui de passagem, e resolvi fazer uns exames – será que essa desculpa seria suficiente?

- Puxa, que legal! Eu ainda continuo treinando lá. A gente gosta muito, e quem sabe você poderia ir nos visitar...de vez em quando fazemos acampamentos e...

- “Sr Ronaldo?” – a enfermeira chamou.

- Sim. Olha, com licença, estou indo. Foi um prazer encontrá-lo, sucesso nos treinos e na carreira. A gente se vê por ai...

- Sem dúvida, vamos nos encontrar sim!

- - -

Não tenho a menor dúvida de que iremos. Aliás, depois dessa, não duvido de nenhuma coincidência!

Abraços

Ronaldo

quinta-feira, 11 de março de 2010

Compre um notebook e ganhe uma chave phillips!

Já imaginou comprar um computador novinho, e de presente, ganhar um curso prático de manutenção de computadores? Com "apenas" 8 horas de aulas totalmente práticas, você se torna técnico em manutenção de computadores!

Infelizmente, não se trata de uma promoção fantástica de fabricante de computador, ou nenhum programa do governo para gerar empregos e promover a "inclusão digital".

Comprei recentemente um notebook novo*, com alguns recursos "top de linha", e outras frescuras super-blaster-avançadas. Com uma semana (ou melhor, seis dias) de uso, já travou, ficou lento, o HD "batendo" feito um disco arranhado (fazendo um "tec-tec-tec-tec"). Fiquei preocupado. Descobri que isso só acontecia quando o computador era ligado, e que após uns 30 minutos, ele funcionaria bem, exceto o tec-tec-tec do HD que ainda não descobri a lógica dele acontecer.

Falei com uma amiga, que por sinal trabalha na tal empresa fabricante, e ela perguntou "você já ligou no atendimento? É super legal, funciona bem, aliás nós nos diferenciamos exatamente pela qualidade do atendimento, etc...". Argumentei que na verdade eu estava é com medo de ligar, e alguém falar para levar o computador até algum lugar onde ele ficaria por 10-20 dias "em diagnóstico", pra depois entrarmos numa roda-sem-fim até que uma solução fosse (ou não) dada. Mas ela me fez crer que o atendimento funcionaria e que 90% dos problemas eram diagnosticados e resolvidos por telefone mesmo sem a necessidade do técnico ou de levar o computador a qualquer lugar.

Liguei. 20 minutos de espera, me atenderam, já de cara pedindo tudo quanto era informação para que eu pudesse provar, basicamente, que eu era eu mesmo, e que eu era (ou tentava) ser um cliente, e que tinha um problema. Me transferiram para o "setor responsável" (imagine isso, todo call center te transfere para o "responsável", ou seja, todos os demais são irresponsáveis).

Uma moça atendeu dizendo que poderia tentar ajudar a diagnosticar o problema. "O senhor está em frente ao computador?", "Sim", "então vamos tentar alguns comandos de diagnóstico". Começou ela com uma parafernália de comandos, "tecle agora W-Alt-Fn-Enter por 7 segundos, retire a bateria, feche o computador, dê 4 voltas na cadeira e olhe pra janela....depois tecle F10 por 682 vezes seguidas e aperte o botão de desligar..." (é claro que isso tudo é sentido figurado...mas imagine-se seguindo uma série de comandos que você não tem a menor idéia para que servem).

A cada etapa, o computador demorava para responder...no meio da conversa é que resolvi falar com ela que "puxa vida, acho que ao final deste atendimento vou receber uma certificação de técnico autorizado, não?". Conversa vai, conversa vem...sem solução aparente, e veio a pergunta bombástica: "O senhor tem alguma chave phillips por perto?". "O quê? Para quê eu precisaria de uma?"; "Para eu lhe explicar como abrir a máquina e resetar as memórias, o problema é que as memórias estão com algum conflito, precisam ser retiradas e reiniciadas...". "Sim, mas você espera que eu faça isso? Com um computador de 15 dias de uso?", "Sim, senhor, é a forma de resolvermos mais rapidamente o seu problema e..."; "Peraí....meu problema?? Por que meu? Por que não da [fabricante]? Eu comprei e paguei, e ainda o problema é meu?". "Senhor, eu entendo, mas só poderemos continuar o atendimento se o senhor tiver uma chave phillips à mão". "Ué, se isso é tão necessário, por que não veio junto com o computador? Deveria vir...vocês dão mochila, pen drive, 1 ano de antivírus, tanta coisa, podiam dar também uma chave phillips junto com o computador, e aliás um manual de Faça você mesmo a manutenção".

Brincadeiras e frustrações à parte, até que achei válida a tentativa...afinal, é melhor tentar resolver o problema em 1 ou 2 horas, do que ir até algum lugar, deixar o computador, esperar 10 dias, etc etc...O que foi mais frustrante mesmo é ter um computador tão novo e já com problemas.

Vamos que vamos...um dia isso será melhor.

Um abraço
Ronaldo






*Não vou dizer a marca, pois o intuito do blog não é virar um "fórum de frustrados com a marca X", mas adianto que é uma das grandes, famosas, respeitadas, nada de "xing-ling". E mais, pensando bem, qualquer marca serve, é tudo igual mesmo, o atendimento seria exatamente igual, ou pior.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

(Minha) Nossa Língua Portuguesa!

Brasilzão...um país de dimensões continentais. Nos meus (já idos) tempos de colégio, nas aulas de geografia, comparávamos o tamanho do Brasil ao de toda a Europa, "menos a Rússia", fazia questão de frisar a professora.

Aliás, por curiosidade, fiz questão de pesquisar: no meu tempo eram 8.511.965 km2, mas hoje no site do IBGE falam em 8.514.215 km2. Ou seja, em 20 anos nosso país aumentou 3.250 km2, ou praticamente 600 mil campos de futebol (é capaz do Lula querer dizer que foi graças a ele, e que "nunca antes na história deste país a terra aumentou de tamanho...").

Pois bem, na Europa, temos várias culturas, idiomas, costumes, e também, rixas, rivalidades, brigas, etc...se olharmos até mesmo um país como Espanha, há várias "Espanhas" (Catalunha, Galicia, Basco, etc...).

Nada mais natural que o Brasil também tenha vários "Brasis". Temos comidas típicas mineiras (tutu de feijão), gaúchas (churrasco), baianas (acarajé), catarinenses (marreco recheado), temos músicas diferentes, hábitos diferentes, e também línguas diferentes. Isso mesmo!

Mas o tema deste post não é "regionalismo" da nossa Língua. Aliás, quem sou eu pra querer falar nisso...um ignorante. Mas procuro tomar cuidado para não escrever errado. E fico bastante chateado quando vejo coisas erradas sendo escritas ou faladas, nos mais variados públicos (das domésticas aos mais altos executivos). Dá vontade de fazer um glossário...vejam só:

1) Comecemos pela crase (é, o acento grave). Parece que as pessoas têm certa compulsão para usá-la, tanto que usam mais do que o necessário. Uma das regras fundamentais era "não use antes de verbo", mas estou cansado de ver "Contas à Pagar", "Valores à receber", "Valor à confirmar com fornecedor"...enfim, como se a palavra ganhasse ênfase ou importância se viesse com um "à" antes.

2) (uma das melhores): certa vez minha mãe foi aconselhada a contratar um "abestador" para o
seu cachorro, para que este melhorasse o comportamento...

3) O porteiro do prédio foi demitido, mas já havia recebido seu "aviso breve"...

4) Como havia sido roubada, a moça foi orientada a "assustar" o cheque, e depositar aqueles que já estavam "avisados" (visados)

5) A mulher estava com dores nos "orvalhos"

6) Uma outra, foi ao dentista, porque precisava fazer uma "próstata"...

7) Parei meu carro um dia em um "Estaceonamento", com uma placa que dizia "Fexe o portão faz favor"

8) Chamei um serralheiro outro dia para consertar a "esguadrilha", pois a parte "vasculhante" (basculante) estava com defeito

9) Certos empregados esperam o almoço para abrir sua "malmita" (que aliás é composta de arroz, feijão e "mistura", sendo esta uma gororoba qualquer para que, misturada com arroz/feijão, componha uma argamassa suficiente para rejuntar azulejos com as sobras).

10) Uma vez comi um "xisborge" em uma lanchonete

11) Minha empregada pediu para fazer o "resistro" dela

12) Preciso ir até a "norbiliá" falar com o corretor de imóveis.

13) Comprei um computador "muti-boot" (notebook)

14) Chamei o jardineiro para podar uma "arve"...(aliás, um clássico em http://www.youtube.com/watch?v=w_DmmEHKDh4 )

15) Peguei o elevador e tentei descer no "sétimo-primeiro" (??) andar. Não consegui, voltei e me disseram para ir no "desce-no-primeiro andar" (décimo-primeiro)....

E tantas outras...to mesmo pensando em fazer um curso de idiomas antes de viajar pelo Brasil.

Um abraço

O lado de cá do Texas (texto escrito em Jan/2004)

O lado de cá da fronteira - 22/01/04

Um ano no Texas, e agora já se vão quatro meses no México. Uma ótima experiência para poder dizer que as coisas são realmente diferentes.

A primeira coisa que me vem à cabeça é a gratidão que tenho por ter a oportunidade de experimentar essas coisas. Isso pode ser “piegas” para algumas pessoas, mas muito pouca gente sabe o quanto eu tive que lutar para chegar até aqui, e ainda tem mais por vir...mas a cada dia o sentimento de vitória é latente.

Primeiro, o “sonho americano”. Eu nunca tive muito essa idéia fixa de ir para os Estados Unidos, “fazer a América”, ganhar em dólar e poder realmente sentir que o meu trabalho valia dinheiro de verdade, ou que o próprio dinheiro tinha valor de verdade. O que mais me fascinava era o desafio de viver em uma outra cultura, aprender como as coisas são feitas, como as pessoas se relacionam, como as empresas fazem negócios. Tudo bem, os EUA são o lugar “perfeito” (se é que isso existe), se você pensar em termos de negócios, poder econômico, e certos aspectos da qualidade de vida.

Veio o Texas em minha vida. Lá, vi que existe um misto de ódio e inveja que os demais americanos têm em relação aos texanos. Muitos me diziam que “o Texas não é os EUA”... mas logo eu comecei a me questionar: se for assim, também pode-se dizer que “New York não é os EUA”, “Miami não é os EUA”, a Califórnia é diferente... enfim, se o Texas não é os EUA, então que diabos realmente representa este país? A resposta, a meu ver, é bastante simples: um pouco de cada um representa este país, pois trata-se essencialmente de uma nação de imigrantes, apesar de que muitos americanos negam isso.

Mas a contradição surge e se torna evidente quando eles mesmos se intitulam African-american, italian-american, german-american, mexican-american... mas quase não existem “american-americans”. O país da diversidade, vastidão e das oportunidades, não têm raízes próprias. Não que isso seja ruim. O que mais choca é a hipocrisia de se dizer “whatever-american” e achar que isso é sinal de status e te dá o direito de menosprezar os demais povos e nacionalidades. Achar que o dinheiro e a arrogância, aliados à ignorância são ingredientes indispensáveis para se ter uma vida tranqüila, nem que seja do ponto de vista material.


A começar pelos oficiais da imigração, muitos deles latinos, sempre que me apresento à imigração de qualquer aeroporto americano, me vem à cabeça a idéia de que “esse aí teve sorte (?) de conseguir o greencard e agora se vê no direito de usar de sua autoridade para menosprezar as pessoas... se bobear, há 10 anos atrás trabalhava ilegalmente em algum lava-rápido”.

De qualquer maneira, o Texas me deixou lições incríveis. Convivi com diferentes culturas, muito poucos texanos, mas bastante para aprender um pouquinho de cada parte do mundo. Australianos, alemães, franceses, turcos, ingleses, chineses, argentinos, venezuelanos, uns brasileiros que conheci por lá e também mexicanos.
O que é mais incrível naquele país, em termos de serviços e praticidade da vida, é o que eu chamo de “eficiência impessoal”. Ou seja, tudo funciona, mas desde que exista algum processo mecânico e uma forma padronizada de se executar as coisas.

Não importa que sejam seres humanos fazendo as coisas, eles sempre irão agir de forma robótica, irracional e padronizada. Em inúmeras ocasiões, ao utilizar serviços dos mais simples e banais possíveis, como abrir conta em banco, pagar conta de luz, ou pedir um molho diferente do que está no cardápio, eu ouvi a frase “é a primeira vez que alguém pede isso”. Como pode??? Será que no país das oportunidades e da diversidade, da liberdade de escolha, em mais de 200 anos de história recente, eu fui o único estrangeiro a abrir uma conta em um banco? Será que eu fui o único a pedir pra trocar o sorvete de morango por chocolate?? Difícil de acreditar. O que é mais provável é que a pessoa que está por trás desse serviço é “irracionalmente treinada” para fazer o que está no manual de procedimentos.

Dessa forma, tudo funciona, e “na média” todos entendem o que é pra ser feito, e a vida caminha. Se acontece algo diferente, você é a exceção, e daí nada funciona, tudo demora, simplesmente porque as pessoas são treinadas para executar, e não para pensar. Elas entendem o processo, e não o seu problema. Tudo se encaixa em uma lista de alternativas possíveis, tipo “disque 1 para A, disque 2 para B”.


Um exemplo interessante me ocorreu quando fui ao banco trocar um cheque (isso porque o banco demorou mais de 3 semanas para me dar um cartão magnético que me permitisse efetuar saques nos caixas eletrônicos, porque eu era “o primeiro estrangeiro que pediu um cartão de débito”). Ao entregar o cheque à atendente, a mesma me pediu para ver a carteira de motorista, que lá é bastante aceita como um documento de identificação, por conter foto e alguns dados pessoais. Expliquei para ela que ainda não possuía tal documento, e que tinha duas opções: a minha carteira de habilitação do Brasil, e o meu passaporte. Foi o suficiente para ela começar a recusar-se a trocar o meu cheque. Insistiu em ver a carteira de motorista, e eu insistia no passaporte, que é um documento internacionalmente aceito, tem a minha foto, assinatura e todos os dados pessoais. Após alguns minutos de argumentação, eu perguntei a ela “então quer dizer que eu preciso saber dirigir um carro para poder descontar um cheque?”. Aí ela entendeu que o que ela realmente precisava era confirmar a minha identidade, e confrontar com o cadastro do banco, mas jamais saber se eu sabia dirigir um carro....

Bom, depois veio o “sonho mexicano”.. sim, SONHO, e não pesadelo, porque é mais uma oportunidade que tenho de vivenciar algo diferente. O lado de cá da fronteira do Texas com o México é um mundo totalmente diferente, as pessoas são bastante mais amigáveis, você se entende muito melhor com todo mundo, e não é por causa do idioma, mas sim por uma questão de atitude.


Nota-se uma característica muito mais humana e menos “automática” nas pessoas. Aqui, nada funciona, ninguém respeita as leis de trânsito, tudo é ineficiente, mas mesmo assim a vida segue, todo mundo convive. Não que eu esteja pregando o caos ou dizendo que o México seja o modelo. Mas talvez seja um sinal de que desenvolvimento econômico não é determinante para que as pessoas se relacionem de uma forma melhor e mais humana.

Existe um certo grau de formalidade no linguajar dos mexicanos, algo que chega a ser irritante, quando não patético. Sem dúvida, uma característica de todos os países da América Latina, a de dizer as coisas nas entrelinhas, falar em metáforas, cheio de rodeios e fitas, enfim, muito mais hipócrita. A gente se acostuma a ver coisas como “Valide o seu ticket” ao invés de “Pague o seu ticket”, ou então “fulano não honrou seus compromissos” ao invés de “fulano não pagou a conta”. De qualquer forma, é uma característica cultural que precisa ser respeitada. Afinal, como eu já disse, apesar disso as coisas funcionam, as pessoas vivem, e a economia vai caminhando (não da melhor forma, mas vai).


Porém, uma coisa que ainda me custa muito a aceitar é o espírito de procrastinação dos mexicanos. Peguei um ódio quando alguém me diz que vai fazer alguma coisa “ahorita” (agorinha). “Ahorita” é a palavra-chave pra você saber que o que você precisa NÃO vai ser feito no tempo que você necessita, e se você realmente quer que seja feito, precisa pegar no pé da pessoa até que as coisas aconteçam. Já tive várias ocasiões nas quais discuti com as pessoas dizendo que, tecnicamente “ahorita” significa JÁ. Então, toda vez que escuto esta palavrinha, eu educadamente tento arrancar da pessoa um compromisso de que a coisa será feita, perguntando “a que horas podemos revisar isto?”.

Por falar em horários, também dá uma sensação de perda de tempo querer que as pessoas respeitem os horários. Nesse caso, que me desculpem os mexicanos, mas acho que é questão de respeito e não há característica cultural que justifique isso. Pelo menos no ambiente profissional, se você fala “reunião às 3 da tarde”, é tolerável que você se atrase 5 ou 10 minutos (afinal não somos alemães), mas achar que 3:00h e 4:45h dá na mesma, é demais. O que acaba acontecendo é que todos se desencontram, muitas vezes as reuniões não acontecem, e o tempo vai passando... (eu tive um chefe ex-militar nos EUA que dizia que é tecnicamente impossível você chegar no horário a uma reunião. Ou está adiantado, ou está atrasado, e ponto final...e acho que ele tem razão).

Se extrapolarmos esses fatos para todo um país, aos poucos pode-se entender algumas razões pelas quais um país é economicamente mais desenvolvido que outro. Pode ser idealismo meu, mas acredito que se cada um fizer a sua parte, todos têm a ganhar. Se todo mundo chegar no horário, a reunião acontece, as decisões são tomadas, as ações iniciadas, e sobra tempo para cada um continuar fazendo o que estava fazendo. E assim por diante.

Bom, acho que já está ficando burocrático e cansativo demais... (aliás burocracia no México é um tema que merece um texto exclusivo). O que eu mais pensava em retratar aqui é as grandes diferenças que existem (o que não é novidade), mas também compartilhar um pouco da oportunidade que tive de ver isto de perto. Realmente vale à pena e nos coloca a pensar o porquê de algumas coisas acontecerem, de qualquer que seja o lado da fronteira.