segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Figurinha Carimbada


Figurinhas carimbadas valem mais



Nos meus tempos de adolescente, notadamente a época da Copa do Mundo de 1982 (aquela que todo mundo lembra que o Brasil jogou bem mas não ganhou), eu era um ávido colecionador de figurinhas. Daqueles de jogar “bafo” nos intervalos da escola, levar sacos e envelopes lotados de figurinhas para trocar e disputar com os colegas, ver quem completava o álbum primeiro.

Tinha até uns álbuns que você completava um time do campeonato brasileiro e ganhava uma TV, panela de pressão, e um monte de coisas que eram inúteis para as crianças, e “mais ou menos úteis” para os pais, talvez uma forma disfarçada (ou descarada) de fazer os pais comprarem mais e mais figurinhas para os filhos – que por sua vez, infernizavam os pais porque só faltava a figurinha do Zico para completar o Flamengo e então ganhar o tão cobiçado...faqueiro de 40 peças!

Só que o Zico era diferente. Não só a pessoa, o jogador, mas a figurinha também. Vinha com uma palavra dizendo “Carimbada”, honra reservada a apenas um craque de cada time, e isto fazia com que aquela figurinha fosse mais difícil de se obter, e portanto, ainda mais cobiçada. Quando aparecia uma dessas nos campeonatos de “bafo”, tinha gente disposta a trocar 20, 30, figurinhas por uma dessas, criando uma verdadeira inflação no mercado de figurinhas repetidas (afinal, havia também os sortudos que tinham as carimbadas repetidas!)

Anos mais tarde, fui entender que este fenômeno da escassez das figurinhas carimbadas, só seria mais uma faceta que evidenciaria a burocracia, tráfico de influência e jogo de poder, característicos da nossa “quase-democracia”, que até mesmo as crianças começavam a praticar com suas trocas de figurinhas carimbadas. Afinal de contas, um carimbo fazia com que a figurinha valesse mais.

Na vida adulta, percebi que a regra continuaria valendo. Tudo que tem um carimbo, de alguma forma, vale mais. Até mesmo aquelas cartas comerciais antigas que terminavam com a frase: “para maior clareza, firmamos a presente”, tinham que ter um carimbo, afinal de contas, quando você assina uma carta ela deve mesmo ficar com todo seu conteúdo mais inteligível ao leitor, e se estiver carimbado então, ninguém ousará duvidar de seu conteúdo e seguir as recomendações ali contidas. Pois se quem assina tem um carimbo, deve ser alguém importante.

O carimbo marca todo e qualquer evento importante na vida das pessoas. Quando você nasce, sua mãe vai ao hospital, dá entrada na maternidade, assina uns papéis (aqueles em branco que “o convênio manda assinar”), e lá está um carimbo. Após nascer, o pai vai ao cartório registrar o filho, e ganha o carimbo do tabelião. Quando matricula o filho na escola, ganha o carimbo. Quando o filho termina a escola, lá vem o diploma com o carimbo do diretor da faculdade. (Se repetir de ano, vem cartinha para a mãe, também carimbada pela diretoria...). Quando o filho consegue o estágio, tem o carimbo da empresa. Ao ser efetivado, o primeiro carimbo na carteira de trabalho. O filho então compra seu primeiro carro (o Fusca usado...), e lá vai ele pegar o carimbo de reconhecimento de firma do vendedor do carro. O filho sai de casa e vai morar de aluguel....e tem carimbo no contrato de locação. Quando resolve comprar o imóvel, tem carimbo em tudo quanto é lugar. O filho então se casa...e vem carimbo do cartório de registro civil. Se o filho tem filhos...repete-se o ciclo. Se o filho se separa, tem carimbos de separação, divórcio, advogados, juiz, guarda das crianças, etc. Se o filho vende o imóvel, carimba. Se o filho morre, carimba.

Experimente mandar um recibo de consulta de seu médico para o convênio lhe reembolsar, faltando o carimbo do CRM do médico...experimente tentar sacar seu FGTS após ser humilhantemente demitido, e estiver faltando um carimbo da empresa em um papel qualquer.

Recentemente, contratei um estagiário para nossa empresa. Fizemos todo o processo seletivo, emitimos o contrato, e eu assinei. Foi devolvido pela faculdade pois faltava o carimbo da empresa. Expliquei que nós não tínhamos carimbo (afinal, que diferença faz...), que se fosse necessário poderíamos reconhecer firma em cartório, mandar o contrato social da empresa junto, mas não adiantou. “É o procedimento, tem que ter o carimbo”. Gastei R$ 10,00 e mandei fazer o tal carimbo, para ser usado uma única vez. Só não gostei da história porque não me avisaram que quem não tem carimbo não pode contratar estagiário.

Aliás, pensando bem, quem não tem carimbo não deveria nem estar vivo...
(e ainda bem que não tive que carimbar o blog!)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O "Deus" do Karatê

História longa e real...mas acho interessante! Boa leitura e agradeço seus comentários!


Capitulo I

Saímos de casa, meu irmão e eu, a pedido de minha mãe, para comprar carne para o almoço. Eu devia ter uns 12 ou 13 anos naquela época, onde as preocupações não eram muitas alem das obrigações escolares e algumas relacionadas à casa. O açougue ficava a menos de 2 quadras de distância e convidei meu irmão para vir junto.

Na saída do açougue, fomos abordados por um homem em uma moto, que nos perguntou se conhecíamos uma rua ali nas redondezas. Respondi a ele que não sabia onde era (e de fato eu não sabia mesmo), mas também com a intenção de não alongar muito a conversa, afinal de contas éramos duas crianças falando com um estranho. Mas ele insistiu:

- Vocês sabem onde tem uma loja de kimonos por aqui?

Como nós praticávamos o karatê naquela época, sabíamos o que era um kimono. Mas não conhecíamos loja alguma, e fomos nos despedindo...

- Não sei, não conheço.

- É que estou procurando kimonos – insistiu ele – e também lonas para barracas de acampamento. Eu sou membro de uma academia de karatê e estamos organizando uma viagem com acampamento – insistiu ele...

- Ah, a gente também “faz” karatê – comentou inocentemente meu irmão.

- Puxa vida! Que legal! – disse o sujeito, já desligando a moto...

Seguiram-se então uma série de perguntas que alongaram demais a nossa conversa. “Qual academia? Há quanto tempo? Que estilo de karatê? Vocês fazem competições?”... e daí por diante. E eu já preocupado com o horário, pois minha mãe esperava (pela carne e pelos filhos) para o almoço. Tratei de dispensar o sujeito, mas ele veio com o convite:

- Vocês gostariam de ir conhecer a nossa academia?

- Claro! Será um prazer – respondi – mas temos que falar com a nossa mãe antes, me dá o endereço que a gente aparece lá.

Ele tirou um cartão da carteira e anotou o endereço, dizendo “espero vocês lá, hein?”

Fomos pra casa. No caminho, dei a devida bronca no meu irmão, por ter aberto a boca na hora errada. Em casa, minha mãe já preocupada pela demora, mas enfim, tudo foi superado sem problemas...

Capítulo II – O segundo encontro (no viaduto)

Cerca de 2 ou 3 meses depois do primeiro episódio, caminhava eu em direção à escola, no início de uma tarde, para uma aula de Educação Física. Ao atravessar por cima de um viaduto na Av. 23 de Maio, fui abordado por um outro cara em uma moto, pedindo uma informação:

- Você sabe onde fica a rua “X”? (não me lembro o nome)

- Não, infelizmente não conheço – respondi.

- Você conhece alguma loja de kimonos?

Pronto! Imediatamente pensei “puxa vida, outro deles?”. Não era possível ver isso, a mesma abordagem, de moto, o mesmo diálogo...mas ele continuou:

- É que estamos organizando um acampamento pra academia onde eu faço karatê.

Eu não queria acreditar no que estava ouvindo, mas era verdade, até que ele atacou:

- Aliás, você não é o Ronaldo?

- Não, acho que você está enganado...- aí já fiquei com medo que estivessem me seguindo.

O cara então pediu desculpas e foi embora. Que alívio!!!

Capitulo III – A visita inesperada

Se não me engano, cerca de 3 ou 4 meses após o segundo episódio, eu estava em casa, numa tarde, jogando videogame com meu irmão.

Lá pelas 2 da tarde, tocou a campainha de casa, e como de costume esperamos que minha mãe fosse atender.

Escutei ao fundo uma voz que perguntava

- O Ronaldo mora aqui?

Minha mãe então me chamou, dizendo “visita pra você”. Qual não foi minha surpresa ao ver o sujeito da primeira moto, ali, na porta da minha casa!!!!!

- Ronaldo!! Ainda bem que te encontrei...lembra de mim? Da academia de karatê...

- Lembro sim...mas... – eu e meus 13 anos – como você achou minha casa?

- Ah, eu me lembro que nos conhecemos ali na esquina, eu estava te perguntando sobre lojas de kimonos e você me disse que treinava karatê...

- Sim, mas, ...

- Olha, eu trouxe aqui umas fotos do nosso acampamento, lembra? Estávamos organizando uma excursão da academia e....

- Ronaldo, de onde vocês se conhecem? – perguntou minha mãe, já curiosa e ao mesmo tempo preocupada.

- Ah, ele estava outro dia procurando uma loja, e descobrimos que ambos fazem karatê...

- Então Ronaldo – continuou ele – olha só as fotos, que legal, teve acampamento, escalada, montanhas... – e me mostrava e explicava cada foto, que eu mal tinha condições de prestar atenção ao ver minha mãe cada vez mais assustada (e meu irmão entretido no videogame, estrategicamente ignorando tudo aquilo).

- Que legal, que bom que o acampamento tenha sido legal – tentei terminar o assunto.

- Pois é Ronaldo, talvez tenhamos um outro daqui uns 2 meses...mas enquanto isso, você não quer ir visitar nossa academia? Quem sabe mostrar para nós como a sua academia treina, para vermos as diferenças entre o que você faz...o shoto-kan e o que nós fazemos, o kyokushin...

- É, quem sabe um dia iremos, e...

- Legal! Olha, sábado vai ter um treino pela manhã e seria muito legal se você pudesse ir...

- Não sei se minha mãe vai deixar e... – putz...minha mãe tinha voltado para a cozinha – vou ter que falar com ela depois.

- Legal, vamos esperar vocês lá...você também viu Ricardo?

- Hã...eu? O quê? – meu irmão fingiu de distraído com o videogame.

Capítulo IV – O treino

Na 6ª feira anterior ao treino, o telefone em casa ainda tocou, e era o sujeito querendo confirmar nossa presença no treino. Minha mãe condicionou nossa ida à presença de um outro grande amigo, o Edmilson, ao tal treino. Deixamos o endereço da academia com ela.

Liguei para o Edmilson e contei a história a ele, e o convenci a ir à academia, mais para “me ajudar” do que para curtir a visita em si...mas no fim ele topou.

No sábado, fomos para a academia. Estrategicamente, “esquecemos” nossos kimonos em casa, na intenção de apenas assistir (e não participar) os treinos deles.

Chegando lá, procurei pelas pessoas conhecidas, e nos pediram para esperar em uma sala ao lado da recepção. Em seguida, apareceu o cara da segunda moto (aquele que eu falei que eu não era o Ronaldo).

- Ronaldo? Que legal encontrar você aqui...aliás, não foi você que eu encontrei outro dia ali perto da 23 de maio???

- Eu? Hmm, er...é...acho que foi...

- Foi sim! Eu estava procurando uma loja de kimonos...que legal que você veio!

A esta altura, eu já me perguntava o que era que aqueles caras queriam comigo. O Edmilson, meu amigo, então, não entendia nada do que estava acontecendo...

- Ronaldo, você conhece esses caras?

- Eu não, mas por algum motivo todos eles me conhecem, e não tenho a menor idéia de onde...

- Mas esse cara aí lembrava muito bem de você e...

- “Ed”...não me faça perguntas difíceis. Não tenho a menor idéia de onde esse cara tem tanta familiaridade comigo.

Apareceu o sujeito da primeira moto, e da visita em casa:

- Oi Ronaldo! Que legal que vocês vieram! Me disseram que vocês viriam. Nosso treino já vai começar. Se vocês quiserem, o vestiário é ali e...

- Ah...olha, não trouxemos kimonos, e vamos só assistir. – tentei argumentar.

- Como não? Puxa...mas nós podemos emprestar kimonos a vocês – e chamou um dos colegas – olha, vamos conseguir 3 kimonos para eles aqui, eles são nossos convidados e vão treinar conosco.

Não tivemos como escapar. Pegamos os kimonos emprestados (ao menos estavam limpos). O meu devia ser uns 6 números maior e realmente eu “sobrava” dentro dele. Cheguei a propor ao meu irmão de vestirmos juntos um kimono só, e ele deu risada. Aliás, o Ricardo se divertia com aquela situação.

Fomos para o treino, com o Ed resmungando que não queria treinar. Começou o “aquecimento”, com o pessoal (umas 30 pessoas) correndo em volta do pátio da academia – na verdade era uma casa perto da Vila Mariana, com um quintal relativamente grande. O grupo já tinha uns exercícios ensaiados entre eles, e até uns “gritos de guerra” que faziam à medida que o líder do grupo entoava algumas palavras...

- “Avançar”...gritava ele.

- “Sempre!” – respondiam todos...

- “Recuar”...

- “Nunca!” – respondia o grupo...

O Ed, Ricardo e eu, totalmente perdidos, apenas correndo em fila indiana atrás do grupo. De vez em quando, o grupo parava para exercícios específicos: abdominais, polichinelos, saltos, enfim, coisas típicas de aquecimento para um treino. Tudo muito normal, até que o líder da fila abriu o portão da casa e saiu pela rua Sena Madureira correndo, e a fila atrás dele!

Aí, o Ed, Ricardo e eu achamos estranho...nós todos em kimonos emprestados (e 6 números maior), achamos que foi o maior “mico” que pagamos, ao sair pela rua gritando estas palavras de ordem, correndo descalços pelas calçadas, como parte de um aquecimento. O Ed, durante a corrida estava atrás de mim, falava a todo tempo em meu ouvido: “você vai me pagar por isso!”

Terminado o aquecimento, o lider do grupo reuniu todos e anunciou:

- Hoje temos 3 convidados aqui em nossa academia: Ronaldo, Ricardo e Edmilson, que treinam karatê shoto-kan e vão nos demonstrar algumas diferenças entre os estilos...na verdade, acho que seria ideal colocarmos um de nós para lutar com um deles. Que tal, Ronaldo?

- Bem...eu...é... – não sabia o que dizer.

- Então, vamos fazer um círculo aqui, vamos colocar o fulano para lutar com o Ronaldo. Logicamente, não queremos aqui golpes reais ou que ninguém se machuque, portanto vamos apenas simular algumas diferenças, e quem sabe o Ronaldo goste da nossa academia e possa vir a treinar conosco.

Fiz então uns 5 minutos de lutas e golpes simulados contra o meu “sparring”. Era ridículo: o cara devia ter uns 30 anos de idade, e eu com 13, “ensinando” toda minha técnica apuradíssima de um faixa-amarela a toda aquela comunidade. A cada golpe meu, metade do grupo aplaudia...e eu não entendia nada.

Me tornei sem querer um verdadeiro "Deus do karatê", o verdadeiro Sr Myiagui em pessoa, só que com 13 anos de idade...

Passada essa cena patética, fizemos outros exercícios junto com o grupo, e finalmente aquele martírio acabou. Fomos convidados a vir sempre na academia, adoraram nossa presença, blábláblá....

Capítulo V – O terceiro encontro

Acho que uns cinco meses depois do fatídico treino, estava eu ainda caminhando na Av Brigadeiro Luis Antonio, quando aparece um cidadão em uma moto e...

- Olá, boa tarde. Estou procurando uma loja de kimonos e...

Essa não! Era um terceiro integrante da “seita”...

- Olha, estou atrasado, não conheço.

- Ronaldo? Não é você quem esteve na nossa academia?

E agora? O que dizer a ele? Deu vontade de sair correndo....mas a primeira coisa que veio à cabeça é que não adiantaria, pois eles já sabiam onde eu morava.

- Sim, sou eu sim. Mas não conheço lojas de kimonos por aqui.

- Ah, não tem problema! Eu conheço uma não muito perto daqui que fica na...

- Mas eu não estou comprando kimonos – respondi – é você!!! Olha, preciso ir.

- Tudo bem! Olha, no mês que vem vamos fazer um acampamento, você não gostaria de ir?

- Sinceramente, não. Não gosto muito de acampamento – tive que inventar essa.

- Mas se você preferir, tem pousada lá, não precisa dormir na barraca.

- Olha, desculpe, não posso. Preciso ir. Até logo.

- Até a próxima!

Como assim até a próxima??? Então ele já sabia que haveria a próxima???

Capítulo VI – Anos depois...

Pois bem, acho que o último episódio havia ocorrido aos meus míseros 14 anos de idade. Aos 30 anos, já depois de muitas experiências na vida, este assunto estava totalmente encerrado e devidamente guardado na memória.

Não que eu me preocupasse com isso, mas havia sido até então uma série de coincidências que, toda vez que eu contava a alguém, nem eu acreditava. Em momento algum tive medo disso, mas ficava tentando entender a história para tentar achar algum ponto onde isso tivesse uma explicação lógica, e nada....

Estava eu em um laboratório médico, aos 30 anos de idade, esperando para realizar um exame de ressonância em meu joelho, que havia sido machucado em uma partida de futebol quando eu morava nos EUA. Em uma das vindas ao Brasil, resolvi procurar médico e laboratório para fazer a tal ressonância.

Na sala de espera, peguei um jornal e comecei a ler. Ao meu lado, sentou-se um homem, cerca de 15 anos mais velho que eu, e puxou a conversa...

- Nossa, que dia corrido hoje.

- É mesmo – respondi eu – hoje em dia, a gente nem nota o tempo passar... – típico assunto-vazio-de-sala-de-espera-de-laboratório.

- Eu acho que conheço você – disse o cara ao meu lado...

- Ah é? Não me lembro de você não – e realmente não lembrava.

- Você treina karatê?

- Não...não mais. Quer dizer, eu treinava há muito tempo atrás.

- Ronaldo? É esse seu nome?

- Sim...e você?

- Marcos. Nossa! Que coincidência encontrar você aqui. Eu treinava na Vila Mariana e...

- Ah...acho que me lembro – é claro que eu lembrava!

- Nossa, e você, o que tem feito?

- Ah, moro agora nos Estados Unidos, só estou aqui de passagem, e resolvi fazer uns exames – será que essa desculpa seria suficiente?

- Puxa, que legal! Eu ainda continuo treinando lá. A gente gosta muito, e quem sabe você poderia ir nos visitar...de vez em quando fazemos acampamentos e...

- “Sr Ronaldo?” – a enfermeira chamou.

- Sim. Olha, com licença, estou indo. Foi um prazer encontrá-lo, sucesso nos treinos e na carreira. A gente se vê por ai...

- Sem dúvida, vamos nos encontrar sim!

- - -

Não tenho a menor dúvida de que iremos. Aliás, depois dessa, não duvido de nenhuma coincidência!

Abraços

Ronaldo

quinta-feira, 11 de março de 2010

Compre um notebook e ganhe uma chave phillips!

Já imaginou comprar um computador novinho, e de presente, ganhar um curso prático de manutenção de computadores? Com "apenas" 8 horas de aulas totalmente práticas, você se torna técnico em manutenção de computadores!

Infelizmente, não se trata de uma promoção fantástica de fabricante de computador, ou nenhum programa do governo para gerar empregos e promover a "inclusão digital".

Comprei recentemente um notebook novo*, com alguns recursos "top de linha", e outras frescuras super-blaster-avançadas. Com uma semana (ou melhor, seis dias) de uso, já travou, ficou lento, o HD "batendo" feito um disco arranhado (fazendo um "tec-tec-tec-tec"). Fiquei preocupado. Descobri que isso só acontecia quando o computador era ligado, e que após uns 30 minutos, ele funcionaria bem, exceto o tec-tec-tec do HD que ainda não descobri a lógica dele acontecer.

Falei com uma amiga, que por sinal trabalha na tal empresa fabricante, e ela perguntou "você já ligou no atendimento? É super legal, funciona bem, aliás nós nos diferenciamos exatamente pela qualidade do atendimento, etc...". Argumentei que na verdade eu estava é com medo de ligar, e alguém falar para levar o computador até algum lugar onde ele ficaria por 10-20 dias "em diagnóstico", pra depois entrarmos numa roda-sem-fim até que uma solução fosse (ou não) dada. Mas ela me fez crer que o atendimento funcionaria e que 90% dos problemas eram diagnosticados e resolvidos por telefone mesmo sem a necessidade do técnico ou de levar o computador a qualquer lugar.

Liguei. 20 minutos de espera, me atenderam, já de cara pedindo tudo quanto era informação para que eu pudesse provar, basicamente, que eu era eu mesmo, e que eu era (ou tentava) ser um cliente, e que tinha um problema. Me transferiram para o "setor responsável" (imagine isso, todo call center te transfere para o "responsável", ou seja, todos os demais são irresponsáveis).

Uma moça atendeu dizendo que poderia tentar ajudar a diagnosticar o problema. "O senhor está em frente ao computador?", "Sim", "então vamos tentar alguns comandos de diagnóstico". Começou ela com uma parafernália de comandos, "tecle agora W-Alt-Fn-Enter por 7 segundos, retire a bateria, feche o computador, dê 4 voltas na cadeira e olhe pra janela....depois tecle F10 por 682 vezes seguidas e aperte o botão de desligar..." (é claro que isso tudo é sentido figurado...mas imagine-se seguindo uma série de comandos que você não tem a menor idéia para que servem).

A cada etapa, o computador demorava para responder...no meio da conversa é que resolvi falar com ela que "puxa vida, acho que ao final deste atendimento vou receber uma certificação de técnico autorizado, não?". Conversa vai, conversa vem...sem solução aparente, e veio a pergunta bombástica: "O senhor tem alguma chave phillips por perto?". "O quê? Para quê eu precisaria de uma?"; "Para eu lhe explicar como abrir a máquina e resetar as memórias, o problema é que as memórias estão com algum conflito, precisam ser retiradas e reiniciadas...". "Sim, mas você espera que eu faça isso? Com um computador de 15 dias de uso?", "Sim, senhor, é a forma de resolvermos mais rapidamente o seu problema e..."; "Peraí....meu problema?? Por que meu? Por que não da [fabricante]? Eu comprei e paguei, e ainda o problema é meu?". "Senhor, eu entendo, mas só poderemos continuar o atendimento se o senhor tiver uma chave phillips à mão". "Ué, se isso é tão necessário, por que não veio junto com o computador? Deveria vir...vocês dão mochila, pen drive, 1 ano de antivírus, tanta coisa, podiam dar também uma chave phillips junto com o computador, e aliás um manual de Faça você mesmo a manutenção".

Brincadeiras e frustrações à parte, até que achei válida a tentativa...afinal, é melhor tentar resolver o problema em 1 ou 2 horas, do que ir até algum lugar, deixar o computador, esperar 10 dias, etc etc...O que foi mais frustrante mesmo é ter um computador tão novo e já com problemas.

Vamos que vamos...um dia isso será melhor.

Um abraço
Ronaldo






*Não vou dizer a marca, pois o intuito do blog não é virar um "fórum de frustrados com a marca X", mas adianto que é uma das grandes, famosas, respeitadas, nada de "xing-ling". E mais, pensando bem, qualquer marca serve, é tudo igual mesmo, o atendimento seria exatamente igual, ou pior.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

(Minha) Nossa Língua Portuguesa!

Brasilzão...um país de dimensões continentais. Nos meus (já idos) tempos de colégio, nas aulas de geografia, comparávamos o tamanho do Brasil ao de toda a Europa, "menos a Rússia", fazia questão de frisar a professora.

Aliás, por curiosidade, fiz questão de pesquisar: no meu tempo eram 8.511.965 km2, mas hoje no site do IBGE falam em 8.514.215 km2. Ou seja, em 20 anos nosso país aumentou 3.250 km2, ou praticamente 600 mil campos de futebol (é capaz do Lula querer dizer que foi graças a ele, e que "nunca antes na história deste país a terra aumentou de tamanho...").

Pois bem, na Europa, temos várias culturas, idiomas, costumes, e também, rixas, rivalidades, brigas, etc...se olharmos até mesmo um país como Espanha, há várias "Espanhas" (Catalunha, Galicia, Basco, etc...).

Nada mais natural que o Brasil também tenha vários "Brasis". Temos comidas típicas mineiras (tutu de feijão), gaúchas (churrasco), baianas (acarajé), catarinenses (marreco recheado), temos músicas diferentes, hábitos diferentes, e também línguas diferentes. Isso mesmo!

Mas o tema deste post não é "regionalismo" da nossa Língua. Aliás, quem sou eu pra querer falar nisso...um ignorante. Mas procuro tomar cuidado para não escrever errado. E fico bastante chateado quando vejo coisas erradas sendo escritas ou faladas, nos mais variados públicos (das domésticas aos mais altos executivos). Dá vontade de fazer um glossário...vejam só:

1) Comecemos pela crase (é, o acento grave). Parece que as pessoas têm certa compulsão para usá-la, tanto que usam mais do que o necessário. Uma das regras fundamentais era "não use antes de verbo", mas estou cansado de ver "Contas à Pagar", "Valores à receber", "Valor à confirmar com fornecedor"...enfim, como se a palavra ganhasse ênfase ou importância se viesse com um "à" antes.

2) (uma das melhores): certa vez minha mãe foi aconselhada a contratar um "abestador" para o
seu cachorro, para que este melhorasse o comportamento...

3) O porteiro do prédio foi demitido, mas já havia recebido seu "aviso breve"...

4) Como havia sido roubada, a moça foi orientada a "assustar" o cheque, e depositar aqueles que já estavam "avisados" (visados)

5) A mulher estava com dores nos "orvalhos"

6) Uma outra, foi ao dentista, porque precisava fazer uma "próstata"...

7) Parei meu carro um dia em um "Estaceonamento", com uma placa que dizia "Fexe o portão faz favor"

8) Chamei um serralheiro outro dia para consertar a "esguadrilha", pois a parte "vasculhante" (basculante) estava com defeito

9) Certos empregados esperam o almoço para abrir sua "malmita" (que aliás é composta de arroz, feijão e "mistura", sendo esta uma gororoba qualquer para que, misturada com arroz/feijão, componha uma argamassa suficiente para rejuntar azulejos com as sobras).

10) Uma vez comi um "xisborge" em uma lanchonete

11) Minha empregada pediu para fazer o "resistro" dela

12) Preciso ir até a "norbiliá" falar com o corretor de imóveis.

13) Comprei um computador "muti-boot" (notebook)

14) Chamei o jardineiro para podar uma "arve"...(aliás, um clássico em http://www.youtube.com/watch?v=w_DmmEHKDh4 )

15) Peguei o elevador e tentei descer no "sétimo-primeiro" (??) andar. Não consegui, voltei e me disseram para ir no "desce-no-primeiro andar" (décimo-primeiro)....

E tantas outras...to mesmo pensando em fazer um curso de idiomas antes de viajar pelo Brasil.

Um abraço

O lado de cá do Texas (texto escrito em Jan/2004)

O lado de cá da fronteira - 22/01/04

Um ano no Texas, e agora já se vão quatro meses no México. Uma ótima experiência para poder dizer que as coisas são realmente diferentes.

A primeira coisa que me vem à cabeça é a gratidão que tenho por ter a oportunidade de experimentar essas coisas. Isso pode ser “piegas” para algumas pessoas, mas muito pouca gente sabe o quanto eu tive que lutar para chegar até aqui, e ainda tem mais por vir...mas a cada dia o sentimento de vitória é latente.

Primeiro, o “sonho americano”. Eu nunca tive muito essa idéia fixa de ir para os Estados Unidos, “fazer a América”, ganhar em dólar e poder realmente sentir que o meu trabalho valia dinheiro de verdade, ou que o próprio dinheiro tinha valor de verdade. O que mais me fascinava era o desafio de viver em uma outra cultura, aprender como as coisas são feitas, como as pessoas se relacionam, como as empresas fazem negócios. Tudo bem, os EUA são o lugar “perfeito” (se é que isso existe), se você pensar em termos de negócios, poder econômico, e certos aspectos da qualidade de vida.

Veio o Texas em minha vida. Lá, vi que existe um misto de ódio e inveja que os demais americanos têm em relação aos texanos. Muitos me diziam que “o Texas não é os EUA”... mas logo eu comecei a me questionar: se for assim, também pode-se dizer que “New York não é os EUA”, “Miami não é os EUA”, a Califórnia é diferente... enfim, se o Texas não é os EUA, então que diabos realmente representa este país? A resposta, a meu ver, é bastante simples: um pouco de cada um representa este país, pois trata-se essencialmente de uma nação de imigrantes, apesar de que muitos americanos negam isso.

Mas a contradição surge e se torna evidente quando eles mesmos se intitulam African-american, italian-american, german-american, mexican-american... mas quase não existem “american-americans”. O país da diversidade, vastidão e das oportunidades, não têm raízes próprias. Não que isso seja ruim. O que mais choca é a hipocrisia de se dizer “whatever-american” e achar que isso é sinal de status e te dá o direito de menosprezar os demais povos e nacionalidades. Achar que o dinheiro e a arrogância, aliados à ignorância são ingredientes indispensáveis para se ter uma vida tranqüila, nem que seja do ponto de vista material.


A começar pelos oficiais da imigração, muitos deles latinos, sempre que me apresento à imigração de qualquer aeroporto americano, me vem à cabeça a idéia de que “esse aí teve sorte (?) de conseguir o greencard e agora se vê no direito de usar de sua autoridade para menosprezar as pessoas... se bobear, há 10 anos atrás trabalhava ilegalmente em algum lava-rápido”.

De qualquer maneira, o Texas me deixou lições incríveis. Convivi com diferentes culturas, muito poucos texanos, mas bastante para aprender um pouquinho de cada parte do mundo. Australianos, alemães, franceses, turcos, ingleses, chineses, argentinos, venezuelanos, uns brasileiros que conheci por lá e também mexicanos.
O que é mais incrível naquele país, em termos de serviços e praticidade da vida, é o que eu chamo de “eficiência impessoal”. Ou seja, tudo funciona, mas desde que exista algum processo mecânico e uma forma padronizada de se executar as coisas.

Não importa que sejam seres humanos fazendo as coisas, eles sempre irão agir de forma robótica, irracional e padronizada. Em inúmeras ocasiões, ao utilizar serviços dos mais simples e banais possíveis, como abrir conta em banco, pagar conta de luz, ou pedir um molho diferente do que está no cardápio, eu ouvi a frase “é a primeira vez que alguém pede isso”. Como pode??? Será que no país das oportunidades e da diversidade, da liberdade de escolha, em mais de 200 anos de história recente, eu fui o único estrangeiro a abrir uma conta em um banco? Será que eu fui o único a pedir pra trocar o sorvete de morango por chocolate?? Difícil de acreditar. O que é mais provável é que a pessoa que está por trás desse serviço é “irracionalmente treinada” para fazer o que está no manual de procedimentos.

Dessa forma, tudo funciona, e “na média” todos entendem o que é pra ser feito, e a vida caminha. Se acontece algo diferente, você é a exceção, e daí nada funciona, tudo demora, simplesmente porque as pessoas são treinadas para executar, e não para pensar. Elas entendem o processo, e não o seu problema. Tudo se encaixa em uma lista de alternativas possíveis, tipo “disque 1 para A, disque 2 para B”.


Um exemplo interessante me ocorreu quando fui ao banco trocar um cheque (isso porque o banco demorou mais de 3 semanas para me dar um cartão magnético que me permitisse efetuar saques nos caixas eletrônicos, porque eu era “o primeiro estrangeiro que pediu um cartão de débito”). Ao entregar o cheque à atendente, a mesma me pediu para ver a carteira de motorista, que lá é bastante aceita como um documento de identificação, por conter foto e alguns dados pessoais. Expliquei para ela que ainda não possuía tal documento, e que tinha duas opções: a minha carteira de habilitação do Brasil, e o meu passaporte. Foi o suficiente para ela começar a recusar-se a trocar o meu cheque. Insistiu em ver a carteira de motorista, e eu insistia no passaporte, que é um documento internacionalmente aceito, tem a minha foto, assinatura e todos os dados pessoais. Após alguns minutos de argumentação, eu perguntei a ela “então quer dizer que eu preciso saber dirigir um carro para poder descontar um cheque?”. Aí ela entendeu que o que ela realmente precisava era confirmar a minha identidade, e confrontar com o cadastro do banco, mas jamais saber se eu sabia dirigir um carro....

Bom, depois veio o “sonho mexicano”.. sim, SONHO, e não pesadelo, porque é mais uma oportunidade que tenho de vivenciar algo diferente. O lado de cá da fronteira do Texas com o México é um mundo totalmente diferente, as pessoas são bastante mais amigáveis, você se entende muito melhor com todo mundo, e não é por causa do idioma, mas sim por uma questão de atitude.


Nota-se uma característica muito mais humana e menos “automática” nas pessoas. Aqui, nada funciona, ninguém respeita as leis de trânsito, tudo é ineficiente, mas mesmo assim a vida segue, todo mundo convive. Não que eu esteja pregando o caos ou dizendo que o México seja o modelo. Mas talvez seja um sinal de que desenvolvimento econômico não é determinante para que as pessoas se relacionem de uma forma melhor e mais humana.

Existe um certo grau de formalidade no linguajar dos mexicanos, algo que chega a ser irritante, quando não patético. Sem dúvida, uma característica de todos os países da América Latina, a de dizer as coisas nas entrelinhas, falar em metáforas, cheio de rodeios e fitas, enfim, muito mais hipócrita. A gente se acostuma a ver coisas como “Valide o seu ticket” ao invés de “Pague o seu ticket”, ou então “fulano não honrou seus compromissos” ao invés de “fulano não pagou a conta”. De qualquer forma, é uma característica cultural que precisa ser respeitada. Afinal, como eu já disse, apesar disso as coisas funcionam, as pessoas vivem, e a economia vai caminhando (não da melhor forma, mas vai).


Porém, uma coisa que ainda me custa muito a aceitar é o espírito de procrastinação dos mexicanos. Peguei um ódio quando alguém me diz que vai fazer alguma coisa “ahorita” (agorinha). “Ahorita” é a palavra-chave pra você saber que o que você precisa NÃO vai ser feito no tempo que você necessita, e se você realmente quer que seja feito, precisa pegar no pé da pessoa até que as coisas aconteçam. Já tive várias ocasiões nas quais discuti com as pessoas dizendo que, tecnicamente “ahorita” significa JÁ. Então, toda vez que escuto esta palavrinha, eu educadamente tento arrancar da pessoa um compromisso de que a coisa será feita, perguntando “a que horas podemos revisar isto?”.

Por falar em horários, também dá uma sensação de perda de tempo querer que as pessoas respeitem os horários. Nesse caso, que me desculpem os mexicanos, mas acho que é questão de respeito e não há característica cultural que justifique isso. Pelo menos no ambiente profissional, se você fala “reunião às 3 da tarde”, é tolerável que você se atrase 5 ou 10 minutos (afinal não somos alemães), mas achar que 3:00h e 4:45h dá na mesma, é demais. O que acaba acontecendo é que todos se desencontram, muitas vezes as reuniões não acontecem, e o tempo vai passando... (eu tive um chefe ex-militar nos EUA que dizia que é tecnicamente impossível você chegar no horário a uma reunião. Ou está adiantado, ou está atrasado, e ponto final...e acho que ele tem razão).

Se extrapolarmos esses fatos para todo um país, aos poucos pode-se entender algumas razões pelas quais um país é economicamente mais desenvolvido que outro. Pode ser idealismo meu, mas acredito que se cada um fizer a sua parte, todos têm a ganhar. Se todo mundo chegar no horário, a reunião acontece, as decisões são tomadas, as ações iniciadas, e sobra tempo para cada um continuar fazendo o que estava fazendo. E assim por diante.

Bom, acho que já está ficando burocrático e cansativo demais... (aliás burocracia no México é um tema que merece um texto exclusivo). O que eu mais pensava em retratar aqui é as grandes diferenças que existem (o que não é novidade), mas também compartilhar um pouco da oportunidade que tive de ver isto de perto. Realmente vale à pena e nos coloca a pensar o porquê de algumas coisas acontecerem, de qualquer que seja o lado da fronteira.

Real Madrid x Barcelona (texto escrito em Abr/2003)

Real vs Barcelona - 17/04/03

17/04/2003.

Vou para o aeroporto. Voo as 16:30, chego às 14 horas. Podia-se notar a felicidade em meu rosto. Muita coisa estaria sendo deixada pra trás naquele momento. Menos de um ano antes, eu jamais imaginaria ter passado por tudo o que havia passado nos últimos meses. Às 16:30 anunciam um atraso no vôo. Falta uma peça que viria de Houston, pois um pássaro havia atingido a turbina na viagem anterior e a tal peça precisava ser substituída. Outra solução provável era colar a peça existente. Enfim, tudo isso me parece às vezes uma simplificação exagerada da realidade, afinal de contas ninguém entenderia mesmo se os engenheiros saíssem lá de baixo com seus desenhos, manuais e computadores e dessem uma explicação técnica do que estava acontecendo. O fato é que não sairíamos no horário e pronto.


Após 4 horas de espera e ansiedade, vôo cancelado. Pensei comigo “que mal começo para tão merecidas férias”. A primeira coisa que me vem à cabeça é o tão sonhado jogo entre o Real Madrid e Barcelona. O preço do ingresso já não importava mais, mesmo que a British Airways me devolvesse o dinheiro (o que eu duvido que ocorresse). Dane-se, eu não queria o dinheiro, eu queria ver o jogo. E isso já não tinha mais preço.


Volto pra casa desolado. Um taxista mexicano tenta ser simpático, fala das mulheres brasileiras e dos jogadores de futebol (por que ele tinha que falar de futebol??). Entro em casa, largo as malas, deito-me no chão, olhando para o teto... uma sensação de choro... respiro fundo e penso que isso não poderia estar acontecendo, mas também que não seria por isso que iria me abater.


Vou para a Internet, buscar outros vôos, caso a porcaria da British pisasse na bola de novo. Estava disposto a comprar outra passagem e não deixar uma companhia aérea arruinar minhas férias. Depois eu resolveria o problema do reembolso da passagem perdida.


American Airlines: queriam cobrar um absurdo pela passagem. Quase 4 vezes mais do que eu havia pago. Sem chance. Ainda argumentei que se eles tinham o assento vazio, e eu ainda estava revoltado com a British, seria uma ótima chance para eles fazerem um cliente feliz. A atendente me diz com aquela voz de pouco caso que não poderia fazer nada e que aquele era o preço da passagem. Enquanto isso, minha TV ligada dava notícias sobre a possível concordata ou até falência da American. Duvido que o vôo deles tenha saído com 100% de ocupação. E ainda por cima perderam a chance de ganhar um passageiro a mais.


United Airlines (já em concordata, e lutando para sobreviver): sou muito bem tratado, me ofereceram a passagem pelo mesmo preço, e o cara ainda me pergunta por que eu não liguei pra eles antes. Fiquei de confirmar no dia seguinte, pois queria saber a situação da British. Tudo bem, eu poderia comprar a passagem com eles até o último minuto.


Mais algumas ligações (para desabafar minha raiva naquele instante), para o hotel em Madrid e alguns amigos. Fui dormir.

18/04/2003.

Acordei imaginando que já poderia estar em Madrid, mas não, ainda estava em casa, e tinha um longo caminho pela frente...mas estava mais otimista. O taxista mexicano veio me buscar. Não é todo dia que ele pega duas corridas como essas (são US$ 50 cada uma, devidamente reembolsados pela British Airways). Novamente ele tenta ser simpático, agora não falando de futebol, mas das mulheres espanholas, apesar de ele nunca ter visto uma na vida.


Os atendentes da British me recebem com um cínico e padronizado sorriso de “como vai você hoje???”, como se nada tivesse acontecido no dia anterior. Tento barganhar um lugar na primeira classe ou executiva, pois não vou ressarcir o custo da primeira diária do hotel em Madrid. Nada feito. Disseram que não havia mais lugares (durante o vôo fui conferir e contei 7 lugares vazios na executiva). Ou eles mentem para os clientes, ou eles são desorganizados mesmo, e acredito mais na segunda hipótese, com uma grande possibilidade de ambas serem verdadeiras.


Vôo programado para sair as 15:00, embarque as 14:25. Às 14:20, anunciam que haverá um “pequeno atraso” no embarque, e que o mesmo se iniciará em 15 minutos. Pequeno atraso? Vinte e duas horas e meia é pequeno atraso? Onde está a pontualidade britânica? Começo a me mobilizar para a compra de outra passagem. O vôo da United já havia partido, mas ainda havia outras opções. Avisei educadamente o atendente da British sobre a situação com o meu ingresso do jogo e o prejuízo que eu levaria, e tudo o que escuto é um “entendo perfeitamente, mas é para sua segurança”. Como assim? Quer dizer que o preço que eu já havia pago pela viagem do dia anterior não incluía o cuidado com a minha segurança? E agora eu teria que tomar prejuízo para ter segurança na viagem? Sei lá, achei melhor não discutir e manter o otimismo.


Saímos as 15:20. Durante o vôo, leio, estudo, como, não encontro mais o que fazer. Me ajeito para dormir. Sábado seria o grande dia!

19/04/2003.

Vinte e nove anos e 364 dias haviam se passado na minha vida. Lembro-me que hoje é dia do Índio, porque na escola eu sempre desenhava índios na época do meu aniversário. Lembro que também está próximo do dia de Tiradentes, porque também fazia trabalhos e cartazes sobre o tema quando estava na escola. Mas agora seria diferente. Nada de dia do Índio ou Tiradentes. Pode até ser programa de índio, mas com certeza eu não estava ali para ser mártir de coisa alguma. Mal podia me conter ante a expectativa, tal que eu não conseguia imaginar nada além desse dia.

Qualquer que fosse o destino dali em diante, não importava naquele momento. Não quer dizer que não valesse à pena, mas apenas que não importava. Tudo o que eu pensava era em curtir a partida e sair para festejar o aniversário em algum lugar bem animado. Minha primeira noite em Madrid. Talvez o atraso do vôo tenha sido a propósito para que isso acontecesse. Para exatamente tudo fosse diferente a partir daquele dia.


Fim de jogo, Real 1x1 Barcelona. Gol do Ronaldo, é claro. Um outro Ronaldo estava ali, na arquibancada, esperando para comemorar o início de uma nova era... Saio com meus amigos colombianos, nos divertimos e demos muitas risadas... marquei também o meu “gol” pessoal naquele dia.

Nada como a sensação de vitória e de objetivo alcançado.

Directo de Colombia...(texto escrito em Maio/2001)

Caros amigos,

Nesta primeira semana de Colombia já dá pra ter uma pequena idéia e contar umas historinhas...

Como sempre, muito se ouve no Brasil sobre a Colombia, o problema de narcotráfico e guerrilhas, mas nada se fala sobre o povo honesto e trabalhador que existe aqui, como em qualquer lugar. Nós brasileiros talvez estejamos na melhor posição para desenvolver um senso crítico e tirar da cabeça de uma vez por todas qualquer tipo de preconceito (ou pré-conceito) que fazemos das coisas, pessoas e países.

Digo isto, porque, ao mesmo tempo que pensamos que vamos chegar na Colombia e ver pessoas se drogando e bombas explodindo, cenas de guerra, etc... ficamos chocados em ver que americanos e europeus pensam que existem cobras e macacos nas ruas de São Paulo. Ou seja, depois de sofrermos o preconceito, deve-se pensar 2 vezes antes de formar opiniões sobre o que não é conhecido.

De fato, eu nunca pensei que isto aqui fosse selva. Afinal de contas, qualquer cidade com 8 milhões de habitantes, como Bogotá, não pode ser selva...

Bogotá é uma cidade interessante. Ruas bem organizadas, numeradas em ordem crescente (de norte a sul, e de leste a oeste), de modo que qualquer americano andaria aqui facilmente. Ou mesmo os cariocas, porque aqui também se usa as montanhas como referência.

Ninguém aqui esconde o problema das guerrilhas, narcotráfico ou paramilitarismo, o que na minha primeira impressão é um PCC ou um Comando Vermelho mais bem organizado e mais rico, afinal de contas são sustentados pelo infindável dinheiro do narcotráfico. Mas está claro também que isso é um problema deles, e estão lutando para resolver, e se sentem visivelmente ofendidos ao ver que um estrangeiro faz comentários, emite opiniões ou mesmo brinca com o tema. Afinal de contas, o mundo inteiro os observa com os olhos preconceituosos de quem acha que todo colombiano é traficante por definição. E quem acha que Bogotá vive em clima de guerra, por favor dê uma volta no Capão Redondo ou no Parque Santo Antônio aí em São Paulo, ou em Belford Roxo/Nova Iguaçu no Rio, antes de falar qualquer coisa.

Muito pelo contrário, as pessoas são amáveis e amigas, sempre gentis e dispostas a ajudar aos outros, sejam estrangeiros ou não. É verdade que em muitos lugares se vê o exército nas ruas, todos armados até os dentes. Mas com o tempo você se acostuma. Afinal, eles estão aí para proteger, e se você não deve nada, não há o que temer. E o povo é bem consciente disso.

Alguns comentários e curiosidades que notamos....:

É impressionante a quantidade de mulheres no mercado de trabalho aqui. E não só em atividades operacionais, mas também em altos cargos executivos. Para se ter exemplo, nosso cliente aqui (um banco) tem 3 vice-presidências, sendo que 2 delas (Comercial e Tecnologia/Operações) são exercidas por mulheres. Muitas outras são vistas em cargos de gerência média em áreas como informática e contabilidade, as quais não sei porquê são dominadas por homens em outros lugares. Definitivamente, daria pra fazer uma tese de sociologia sobre a participação da mulher.


No dia em que chegamos, quando o táxi parou na porta do hotel, parou logo ao lado um caminhão do exército de onde saíram uns dez soldados, cada um com 2 metralhadoras. Passada a curiosidade, me contaram que isto é normal, e depois você se acostuma mesmo. Afinal de contas, você não deve nada a eles.


No dia seguinte, desarmam um carro-bomba com 150kg de TNT em um bairro comercial. Todos ficam apreensivos porque em Bogotá isto não é normal. Por conseqüência, ficamos assustados, mas fazer o quê... sempre me refiro ao exemplo de São Paulo, onde você pode levar um tiro na cabeça se tiver menos que R$ 50 no bolso.


Na sexta-feira, 3 bombas perto da Universidade. 4 mortos. Um clima de expectativa e ansiedade se espalha. O governo anuncia reforço na segurança e um novo plano de segurança nacional. Felizmente, foi longe de onde estávamos e um dos mortos foi o próprio imbecil que colocou a bomba e não teve tempo de correr....assustador? Quantas chacinas já ocorreram este ano em São Paulo? Não quer dizer que eu não tenha medo de nada, mas a gente tem que saber relativizar as coisas antes de falar.


De fato, a segurança foi reforçada. Os taxis proibidos de estacionar nas ruas e qualquer carro suspeito era revistado. Ao sair para o jantar, vimos que oficiais do exército olhavam com espelhos por baixo dos carros à procura de qualquer coisa estranha. Na entrada do restaurante, detector de metais e revistavam os clientes (mas também, quem já não levou uma "apalpada" em qualquer bar de moda onde só freqüentam classes média alta e alta em São Paulo? Nada mais natural que isso ocorra aqui também.


Depois de um sábado inteiro de trabalho, conhecemos um outro bar/restaurante muito divertido, "Andrés Carne de Res". As pessoas se divertem à beça, dançam até ao lado da mesa e não param um segundo. É fácil notar a alegria deste povo que, após a semana de trabalho e de tantos outros problemas, consegue se desligar do mundo e ter alguns momentos para extravasar as energias (com algumas "botellas", claro....).


Os bares aqui fecham à 1:00am ou no máximo às 2:00. No "Andrés", quando é chegada a hora de fechar, a música pára, as luzes se acendem, e entra a voz do dono falando ao microfone:
"Lamentavelmente é chegada a hora de irmos para casa. Infelizmente, este país ainda tem muito para fazer, para que possa desfrutar das coisas lindas e do povo maravilhoso que possui. Infelizmente, uns poucos merdas destroem a nossa imagem e fazem com que o mundo nos olhe com cautela. (E o bar todo calado, mais de 500 pessoas). Aos outros merdas que fogem desta situação e vão morar em Miami, só nos resta lamentar. A nós, que ficamos, nos resta o trabalho e o esforço para fazer de nosso país um país melhor, e tenho certeza que vamos conseguir. Eu trabalho e sei que vocês trabalham. Nossa tarefa é difícil, mas quando conseguirmos, vamos olhar para todos esses merdas e dizer que temos orgulho de ter nascido na Colombia. Vamos saudar o nosso país, agitar nossa bandeira e trabalhar para que um dia possamos ficar aqui até o sol raiar, gozar nossa liberdade e aproveitar o fruto do nosso trabalho." Logo em seguida, distribuíram bandeirinhas da Colômbia e o povo todo começa a cantar e ir embora, sem música. Foi simplesmente de arrepiar.

Domingo à tarde, fomos ao estádio El Campín, assistir uma partida de futebol entre o Santa Fé de Bogotá x Nacional de Medellín (afinal de contas, brasileiros e argentinos não resistem a futebol....). Outra surpresa agradável. Para quem esperava ver um estádio grotesco, imundo, com gente feia, multidões se acotovelando para comprar ingressos e o famoso churrasquinho de gato, não vimos nada disso. Cerca de 30 mil pessoas, homens, mulheres e crianças, num clima de festa e torcida impressionante. De cada um dos lados, via-se as torcidas empurrarem seus times, cantando o tempo todo (como os argentinos fazem), muito papel picado, muita festa e cores. O estádio? Modesto, porém limpo e organizado, assentos individuais e banheiros de dar inveja ao Morumbi e Pacaembu. A saída depois do jogo? Civilizada, as duas torcidas se encontravam nas ruas, e não se percebia nenhum clima de agressividade.

Definitivamente, o Brasil tem muito o que aprender.

Uma questão de confiança (Texto escrito em Maço/2004)

Uma questão de confiança - 31/03/04

Durante minha vida pessoal e profissional, deparei-me com inúmeras situações onde é necessário tomar alguma decisão baseada pura e simplesmente na confiança que você tem ou deposita na outra pessoa (ou até mesmo uma instituição, empresa, etc.).


Certa vez, lendo um artigo em uma dessas revistas de bordo em um avião, uma coisa me chamou a atenção: a economia de um país inteiro pode ou não ser próspera de acordo com a confiança que os indivíduos depositam nas demais pessoas e nas instituições. E contava um exemplo bastante simples: você chega numa lanchonete de aeroporto e pede um café. Toma o café e pergunta “quanto é?” para o(a) atendente. Mas espere aí: você parou pra pensar que o atendente lhe serviu o café porque CONFIOU em você e que acreditou que você iria pagar? Tudo bem, existem lojas de cafés que fazem ao contrário, você paga primeiro e toma o café depois. Mas a regra é a mesma: você tem que acreditar que eles lhe servirão o café após você ter pago.


O conceito é simples, mas se um dos lados não acreditar no outro, ANTES que algo aconteça, nada irá acontecer e tudo se tornará uma eterna batalha para ver quem tem maior poder de coerção até que um se dê por vencido e faça as coisas por submissão. Mas até lá muito tempo foi perdido e já não estaríamos mais aqui.
Pense nas compras pela Internet: se você não acreditar que o Amazon.com vai te entregar o livro, eles não estariam vivos. Se você não acreditar que um e-mail tem o valor de uma passagem aérea, pode pensar em voltar para as filas dos aeroportos, ou pagar comissões de agências de viagem que imprimem o papel e cobram uma porcentagem para fazer o serviço. Não agregam valor algum. Apenas te dão 50 opções diferentes de vôos até que você fica tão confuso e não sabe mais o que faz, e acaba fazendo o que é melhor pra eles, não pra você.


Bem, recentemente tive um exemplo claro onde não pude confiar no que me prometiam, e em função disso tomei a decisão contrária à que seria a naturalmente tomada, caso houvesse um ambiente favorável e confiável. Em minha recente experiência profissional nos Estados Unidos, tive a oportunidade de aprender coisas novas, desenvolver um trabalho diferente, tal que o grupo no qual trabalhei estava sendo sondado para assumir uma posição de destaque na organização. A exposição foi tal que até menções em mídia especializada tivemos.


Mas, como muitas coisas que vi na "Corporate America", muitas coisas são mais cheias de ar do que se pode pensar ou crer (sabe aquela coisa do "PowerPoint bonitinho"?). Todo mundo vê as coisas e acha lindo, grande idéia, mas muito pouca gente está disposta a por a mão no bolso e pagar por isso. Leia-se: enquanto estávamos fazendo o trabalho, com um orçamento próprio para o nosso grupo, todo mundo (os outros departamentos) adorava, achava o máximo. Igual viagem de formatura: na reunião da comissão, todo mundo se empolga e acha o máximo irem todos os 200 alunos para um resort em Trinidad y Tobago, mas na hora de fazer o cheque, só uns dez acabam topando.

Mas quando foi a hora do nosso grupo ter a tal “posição de destaque”, isso significaria incorporar nossos custos ao orçamento de outras áreas, e aí todo mundo parava pra fazer contas, e a coisa não saía do lugar. O que mais impressionava é que não tinha uma pessoa que tomasse uma decisão.


Criou-se um clima de grande incerteza na empresa, e todos ficaram apreensivos. Qualquer coisa que se oferecesse, naquela altura do jogo, seria com muito pouca probabilidade de ser cumprida. E aí tem um tema cultural: o estilo altamente individualista dos americanos faz com que um dia o seu chefe te prometa um monte de coisas, e 2 semanas depois ele pode conseguir outro emprego, ou mesmo ser demitido, e tudo vai por água abaixo. É como começar do zero, com o novo chefe. Nada do que você fez tem valor algum, porque o novo chefe quer colocar “o seu toque” na organização, de forma que ELE se dê bem e seja promovido. Não importa se você está ali, se você tem vida pessoal, ou qualquer coisa que tenham falado pra você antes da “gestão” dele. Rasga-se tudo, coloca-se o papel branco na mesa, e começamos do zero.


Surgiu a chance de uma transferência definitiva para a empresa nos EUA, com salário “americano”, enfim, uma proposta economicamente tentadora, profissionalmente interessante, e do ponto de vista pessoal a chance de estar em um ambiente diferente a mais longo prazo e poder fazer outros tipos de planos pessoais.
Porém, diante desse clima, a minha única exigência foi que o primeiro ano de contrato deveria ser “garantido”. Ou seja, eu queria garantir que pelo menos os primeiros 12 meses seriam honrados, não importando o que acontecesse na empresa, afinal de contas, se éramos tão bons assim, e a empresa pensava em crescer no longo prazo, 12 meses não seriam nada. Assim, se desse algum problema e eu fosse despedido após 3 meses, receberia o equivalente a 9 meses de salário como indenização (nos EUA o aviso prévio é normalmente de 2 semanas, e nada de FGTS e outras coisas que temos no Brasil – é pouco mais que um tapinha nas costas e olha lá). Se fosse despedido após 8 meses, receberia 4 meses de indenização, e assim por diante.

O grande problema foi achar alguém pra “bancar” essa proposta. Ninguém queria assumir isso. Pior, ninguém queria fazer uma oferta por escrito, dizendo claramente quais eram as condições, quaisquer que fossem. Todo mundo se dizia muito ocupado, e que as coisas “precisavam caminhar”... Bem no estilo americano, de “vai fazendo e depois a gente vê” (e nós achamos que o "jeitinho" é coisa de brasileiro). Mas eu bati o pé firme e disse que se não fosse assim, preferia voltar ao Brasil. E assim foi.

Volto ao Brasil, e apenas 2 meses depois, vejo que todos os figurões que estavam me prometendo mundos e fundos, foram “rebaixados”, realocados, despedidos, enfim, já não existiam mais no contexto em que estavam. Alguns se foram voluntariamente, pois já tinham outros empregos acertados. Pobre de mim se tivesse ficado lá e “ver no que dá”. Não é assim que se faz negócios, precisamos ser mais sérios, profissionais e respeitar as pessoas. Tivesse eu ficado lá, estaria à mercê de qualquer um outro que assumisse o comando da área, certamente olhando com maus olhos seu orçamento e a minha cara, e pensando como se eu fosse “da velha guarda” e certamente seria o próximo de uma lista de cortes (que de fato veio 30 dias depois...).


Com tudo isso, discuti amplamente com meus amigos dos EUA o grande problema: não se tratava de como as empresas trabalham, a dinâmica da mudança ou a incerteza típica dos dias de hoje. Vai mais além, é uma questão de CONFIAR ou não nas pessoas que te dizem as coisas. É como se fosse um sexto sentido que a gente também precisa ter antes de tomar certas decisões. Não era um processo puramente analítico e lógico, caso contrário eu teria ficado. Mas o fator CONFIANÇA pesou muito.


Pensemos nisso das próximas vezes...enquanto isso, consulte sempre um advogado (ou sua consciência?)

Um abraço


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Olha só, eu quero gastar meu dinheiro com vocês

Pois bem, estamos em fase de instalação do nosso novo escritório em Pinheiros.

Fizemos um bom negócio e conseguimos algo muito conveniente: um escritório já mobiliado, o que nos poupa, além do investimento, o TEMPO de providenciar praticamente tudo o que é necessário em uma nova instalação.

Entre itens ainda necessários, precisamos contratar internet, telefone, manutenção do ar condicionado, e outras coisas menores mas que não nos desanimam.

Contatei uma empresa de telefonia e deixei recado na 5a feira passada. Não me retornaram. Liguei na 6a, e nada...na 2a feira, nada....na 3a feira, nada...até que nesta 4a feira liguei novamente.

Expliquei que era um incrível paradoxo: eu estava tendo problemas de comunicação justamente com a pessoa que deveria resolvê-los para mim. O (ir)responsável pela empresa nunca está, está fora, em visita, atendendo clientes...etc. Tive que ouvir ainda um "ele esteve aí ontem mas o sr. não estava", sendo que nada foi combinado.

Até que por último expliquei: "veja bem, eu estou há 5 dias tentando falar com uma pessoa para instalar telefonia no meu escritório. Teoricamente entendo que ele deveria querer fazer o serviço, pois nós estamos dispostos a pagar por isso, mas agora vou também procurar outras alternativas. Entendo que se o sr. FULANO (nome fictício, é claro) não me ligar, é porque ele não deseja prestar o serviço e está satisfeito com os clientes que já tem, não querendo ampliar a sua carteira. Isso é perfeitamente aceitável, desde que seja deixado claro para os novos clientes, que nunca chegarão a ser clientes. Assim sendo, aguardo a ligação, ou não. Obrigado".

Alguém aí pode me indicar uma empresa de infraestrutura de telefonia?

Abraço a todos...e não me liguem, pois estamos sem telefone!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Nota Fiscal Paulista - será que adianta denunciar?

Achei o projeto da Nota Fiscal Paulista uma das melhores coisas que já inventaram para acompanhar o pagamento dos impostos. Não sou especialista no assunto de processos de arrecadação, mas o fato é que o governo conseguiu contratar milhares de fiscais-contribuintes que têm em suas mãos ferramentas para saber o que se passa com pelo menos uma parte dos impostos que pagam.

Há pessoas que não querem seus CPFs nas notas fiscais, porque "não quero que o governo fique rastreando o que eu estou fazendo". Boa parte destas pessoas, no entanto, não se deu conta ainda que seus rendimentos são de salários, e estes são tributados na fonte, e o governo não se importa, a grosso modo, PRA ONDE VAI o seu dinheiro, e sim DE ONDE ELE VEM.

Pois bem, tenho por hábito solicitar a Nota Fiscal com o CPF e acompanhar sua inclusão no sistema da Secretaria da Fazenda do Estado (pra quem não sabe, procure em www.nfp.fazenda.sp.gov.br). Felizmente a maioria das notas são registradas lá, talvez mais de 80% delas, nunca fiz a conta certinha para saber isso.

Mas, quando alguma delas não aparece após algum tempo, eu registro a reclamação no site e aguardo providências. Não achemos ainda que isto seja "sacanagem" do fornecedor, pode ter sido apenas um erro no processo, os arquivos, enfim, estas coisas que a informática nos deixa sujeitos e que não necessariamente seja má-fé das pessoas.

Das reclamações registradas, até agora, cerca de metade delas se resolvem e os créditos aparecem, pois normalmente as justificativas são de que "houve erro na transmissão do arquivo e já estamos regularizando...". Quanto à outra metade, pode-se formalizar uma denúncia para que a Secretaria efetue uma investigação mais apurada do caso.

Para minha surpresa, algumas destas reclamações têm sido unilateralmente "Arquivadas pelo Fisco" (segundo o status que aparecem no sistema), por "falta de provas", ou então "valor do documento divergente do que foi registrado no sistema", ou qualquer outra razão.

Ora, como assim "falta de provas"? Se eu vou a um restaurante, peço a Nota, tenho a mesma em mãos e envio a imagem escaneada para a receita, QUE OUTRAS PROVAS EU PRECISO?

Como assim "valor do documento divergente do registrado no sistema"? Se eu tenho uma nota de R$ 57,64 (estou lendo isso no documento, paguei este valor), registro no sistema por R$ 57,64...QUAL VALOR ESTÁ DIVERGENTE? Que valor eu deveria lançar então? Ou pior, suponhamos que eu tenha de fato errado...isso é motivo para que a reclamação seja arquivada???

Já escrevi para a Ouvidoria da Fazenda, na esperança de que algo ocorra. Mas, como brasileiro não desiste nunca, vou continuar acompanhando. E para quem acha que o tempo é perdido, já resgatei quase R$ 2.000 em créditos.

Um abraço a todos!

Telefone fixo pra comprar privada?

Há uns 4 anos fiz uma pequena reforma em um apartamento que havia comprado. Nada muito complexo, apenas reforma de banheiros e cozinha, restauração de armários e troca de rodapés.Como eu havia praticamente acabado de voltar ao Brasil após algum tempo morando no exterior, era exatamente essa a minha necessidade - ter um "teto" próprio e não mais ficar "acampado" na casa da mamãe, em meio a caixas e com um ritmo de vida já totalmente diferente dos tempos adolescentes, em que a influência materna na educação se faz mais presente.Nas compras dos materiais de construção, fomos à loja Telhanorte no Morumbi para escolher as louças do banheiro. Após várias análises (imagine quase um "test drive" de um vaso sanitário), e o modelo escolhido, fui ao caixa efetuar o pagamento. Como o sistema do cartão de crédito estava fora do ar, resolvi pagar em cheque.A moça do caixa me pediu um telefone para anotar no verso, e passei o número do meu celular. - Tem algum outro fixo? - disse ela. - Não, não tenho, só esse mesmo.- Mas eu preciso que o sr. me passe um número fixo.- Mas eu não tenho (na verdade até teria, o da empresa, ou da minha mãe...mas achei o cúmulo). Tem esse celular aí, se você me ligar agora, pode ver que ele toca e você me encontra 24 horas por dia. - Mas senhor, eu não posso receber cheques só com o número do celular.- Moça, eu estou exatamente comprando materiais de construção para poder reformar uma casa, para poder ter uma casa, pra poder ter um telefone...daí eu vou poder lhe dar um telefone fixo.- Senhor, eu entendo, mas infelizmente eu não posso aceitar.- Pois bem, vamos falar com o gerente da loja então, eu gostaria que ele me explicasse isso, pois eu não sabia que precisaria ter um telefone fixo na minha casa pra poder comprar uma privada. Achei que dinheiro na conta fosse suficiente.Fomos ao gerente. Explicada a situação, ele acabou autorizando a compra. Analisou meu cadastro na loja, viu que eu já havia feito outras compras, etc.Eu sei, após alguns anos de trabalho em banco e conhecer algumas análises de fraudes, que clientes que só possuem celulares podem estar mais propensos a fraudar as lojas e os bancos, mas precisamos ter cuidado nestas análises "simples" dos processos para não constranger o cliente ou até mesmo criar situações ridículas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O pior do Brasil...

Nestes dias tive uma agradável conversa com um amigo Claudio, sobre "o pior do Brasil".

O papo começou com o comentário sobre as chuvas e enchentes, e como o nosso "povinho" contribui para piorar nossa qualidade de vida. Deparei-me com seu blog "o pior do Brasil é o brasileiro" (http://claudiosm.blogspot.com/2009/12/o-pior-do-brasil-e-o-brasileiro.html)
onde vi que temos algumas opiniões em comum. E como as pessoas contribuem para que nosso país não evolua.

Certa vez estive na Alemanha em 2003 hospedado na casa de um amigo em Munique, que me comentou que, caso alguém fosse assaltado ali e gritasse por socorro, as pessoas reagiriam prontamente para capturar o assaltante e entregá-lo à polícia.

Pois bem, não se trata de heroísmo, mas sim, de um sentimento de coletividade onde as pessoas têm plena consciência de que o todo é muito maior que a soma individual das partes, e isto por si só já age como inibidor da violência no exemplo em questão.

Não prego aqui que devemos reagir a situações de perigo. Mas...pensemos por um segundo apenas: que tal se, ao invés de reagirmos a um assalto, TODOS reagissem ao mesmo tempo contra o assaltante? Será que isso por si só não criaria um sentimento de medo no próprio assaltante, ao invés do medo recair sobre nós???

Enfim, o tema aqui é nosso SENSO DE COLETIVIDADE. Quantos já foram a uma reunião de condomínio? Você já foi a alguma audiência pública onde se discute os prós e contras de determinado projeto de lei? Vota em branco porque "tanto faz, todo político é pilantra mesmo"? Ou então vai pro Guarujá e justifica seu não-voto porque "estava ausente da cidade"? Não seria melhor perguntar se algum dia você esteve presente? Quanto você de fato participa do que acontece na sua comunidade? Acha que pagar seus impostos (para quem os paga...) é suficiente para isentar-se da responsabilidade de participar da sociedade?

Sempre que possível vou evitar manifestações partidárias no blog, até porque este é um tema pra lá de polêmico, mas exercício de cidadania é uma coisa que considero primordial para que tenhamos um Brasil cada vez melhor.

Um abraço
Ronaldo

Pra começo de conversa...

Seja bem vindo ao meu blog!

Por aqui, pretendo compartilhar algumas ideias, histórias, passagens da vida, opiniões, solicitar opiniões sobre diversos assuntos...enfim, compartilhar um pouco do que acontece nas nossas vidas!

Espero que você goste, e como se diz no teatro.."se você gostou, indique aos amigos, e se não gostou, indique aos inimigos".

Um grande abraço!
Ronaldo